A VERDADEIRA FACE DA GRATIDÃO

Tem sentimentos que quando expressos em palavras não denotam a verdadeira face de quem a sente. As palavras nesses casos são como máscaras ocultando o que só o tempo poderá responder. A gratidão é uma delas. 

Dizer um muito obrigado (a) não representa verdadeiramente gratidão. A retribuição no momento em que se afigura como oportuna é voluntária e não obrigatória. Portanto, não deve ser cobrada por quem a praticou, no entanto supõe-se que devido as considerações de amizade e respeito haja certo grau de cumplicidade na eventual necessidade. É nessa hora que vemos a disponibilidade do outro em evidenciar gratidão ou não. 

Há os que não podem por razões diversas (não nos compete julgar), porém há os que não se abrem para a partilha de gestos sutis, enclausurando-se em jaulas de seu ego.

Por exemplo, é muito mais fácil vermos pessoas depreciando outras, seja em público ou não,  na frente ou por trás do outro referido em vez de se abrir para a possibilidade de expressar um ‘ gosto de você’ ou ‘você é importante para mim’ para as pessoas queridas.

O mundo dessas pessoas requer rudeza de sentimentos e evidenciá-los de forma sublime é sinônimo de incompetência, fraqueza ou defeito moral. 

O certo é ser frio, calculista e individualista. Envelhecer é pecado, ser grato é só com palavras, dizer algo bom sobre o próximo só entre quatro paredes numa intimidade profunda, senão o medo de demonstrá-los pode consumi-lo, pois o outro poderá tirar proveito disso. 

A criatura desse tipo se impõe tantas censuras que a paralisa de continuar uma vida plena e saudável. Tal qual uma semente entre espinhos ou pedregais - não floresce. Tudo é proibido, tudo é crítica.

Nesse impasse de brincadeira de esconde-esconde, os sentimentos que ficam evidentes são os da raiva, da ira e principalmente o da inveja. Gratidão tem como oposição a inveja.

Interessante comparar:  se sou grato é porque recebi do outro algo que no momento precisava e não a tinha (desde um favor a um presente) mas aos olhos do favorecido cresce uma sensação de injustiça na qual pensa: quem deveria estar nessa condição era eu e não ele. A cobiça invade e não há brechas para a verdadeira gratidão, mesmo que no momento do favorecimento exista um muito obrigado (a) como resposta.

A inveja invade o corpo pelos olhos, é o ver ansiando o que não lhe pertence. Talvez esse não pertencimento seja por parte do invejoso pela falta de objetividade em alcançar o que se é desejado, gerando em si uma revolta, uma inconformação que pode prejudicar o outro só com o pensamento.


 O olhar se enche da gordura do mal: daí expressões populares como olho gordo, seca pimenteira e outros termos afins.

Libertar-se de censores que impedem os sentimentos positivos expressando-os sem medos ou inseguranças é o melhor meio de alcançar a plenitude da alma e a verdadeira gratidão além de palavras para com o próximo e para consigo mesmo.

Andreia Cunha

"A gratidão desbloqueia a abundância da vida. Ela torna o que temos em suficiente, e mais. Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade. Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã."

Melody Beattie