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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NASCER: O SER NO SER



Alguém pode me dizer que formato o tempo tem? De gente não pode ser. Gente envelhece, a pele enruga e pela lei da gravidade tudo tende a cair.

O tempo, se for gente, (visto que nada sabemos de suas formas) deve estar acima da linha que ele mesmo estipulou para os pobres mortais a quem domina com passadas compassadas. Dele ninguém escapa ileso.

Ele passa e deixa suas marcas nos corpos que a ele se mantém escravos sem escolha. Tornarmo-nos envelhecidos, fracos e impotentes contra essa lei inexorável de constante mudança a caminho da morte.

Entretanto ainda assim, cultivamos sementes como meio de perpetuar nossa eternidade, aquela que tanto almejamos desde a criação, mas que não a temos e muito menos a teremos nesse nosso corpo.

O que podemos - e isso já nos basta - é perpetuar a vida gerando outra vida pela proeza do amor que comanda os sentimentos  e em certos momentos faz com que nos multipliquemos do corpo a outro corpo que se lançará para o mundo tanto quanto nós um dia fomos também feitos.

Andreia Cunha






DUAS PÉROLAS



A chuva me irritava. Até que um dia

descobri que Maria é que chovia.

A chuva era Maria. E cada pingo

de Maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava

como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura…

Maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,

pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,

matinal e noturna, ativa…Nossa!

Não me chovas, Maria, mais que o justo

chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,

não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão – pois que Maria

quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,

o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva

mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira Maria, chuvadonha,

chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,

poças dágua gelada ia tecendo.

Choveu tanto Maria em minha casa

que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,

sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,

as fontes de Maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,

as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido

sob aquele sinistro e atro chuvido.

Os seres mais estranhos se juntando

na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva estúpida e mortal

catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.

Que nada! As cordas dágua mais deliram,

e Maria, torneira desatada,

mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes

já submergem com todos os viventes,

e Maria chovendo. Eis que a essa altura,

delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,

comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:

Não chove mais, Maria! – e ela parou.

Carlos Drummond de Andrade











SERMÃO DA MONTANHA - VERSÃO PARA EDUCADORES 2





      Sermão da Montanha 

      Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre ma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens. 
      Tomando a palavra, disse-lhes: 
      - “Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...” 

      Pedro o interrompeu:- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

      André disse:- É pra copiar no caderno?
      Filipe lamentou-se:- Esqueci meu papiro!
      Bartolomeu quis saber:- Vai cair na prova?
      João levantou a mão:- Posso ir ao banheiro?
      Judas Iscariotes resmungou:- O que é que a gente vai ganhar com isso?
      Judas Tadeu defendeu-se:- Foi o outro Judas que perguntou!
      Tomé questionou:- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
      Tiago Maior indagou:- Vai valer nota?
      Tiago Menor reclamou:- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
      Simão Zelote gritou, nervoso:- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
      Mateus queixou-se:- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
      Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
      Caifás emendou:- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
      Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.- E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor titular...
      Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu.
      Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria... Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:
      -“Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês”.
      Tomé, sempre resmungão, reclamou:- Mas só no céu, Senhor?
      - Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação... Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem. Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois...
      E Jesus concluiu:- Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo...

DIVinA VInDA

Ela não é um cartão postal
       Mas pode sim verter 
                      de nossos olhos  e mente 
  na arte do recordar 

Confesso, 
                           nunca ficará estática
           por mais que se queira eternizar
        Certas horas 
                             a intensa alegria.

Enfim, 
                                  descobriu o enigma?

Andreia Cunha











domingo, 30 de outubro de 2011

HÁ - VERÁ


Há momentos em que se amanhece
Há momentos em que se anoitece

Sempre há - verá momentos

E neles a vida flui como rio
Refletindo nosso estado
Entre iluminar e se esconder

E nisso – simplesmente viver
É o que se deixa acontecer.

Andreia Cunha