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domingo, 21 de agosto de 2011

PIR? O QUE É ISSO?



DES–PIR no sentido denotativo é o ato de tirar (sejam as roupas, as jóias, as armas, etc.). Todavia, sem o DES, o que resta etimologicamente não vive só. “O que é PIR?” Essa falta de significado nos deixa um gosto de dúvida, de inconclusão. 

Temos, portanto, um caso na qual a palavra se esvazia, do mesmo modo que sua imagem enquanto ícone escrito. Grafá-la em caixa alta ou gritá-la não causa mais os efeitos esperados. A palavra, de modo literal, é despida – mostrando sua intimidade, seu nu comunicativo. A nudez, na visão pós-moderna, também está deixando essa sensação de vazio, na qual nem mesmo o grito a faz evidente. Está gradualmente se tornando um vulgar subterfúgio para encarar o que tanto assombra a humanidade. Sempre há meios, entretanto, de a inquietação – pequeno felino que habita o homem -, ressignificar o que antes parecia perdido, ou parecia estar se perdendo. 

O travestir-se tem sido por vezes a solução para esse esvaziamento da nudez seja ela do corpo, seja ela da alma. Quem nunca se chocou em ver roupas e/ou atitudes ditas contraditórias inadequadas ou espalhafatosas?


O homem da mesma maneira que se deixa habitar pela inquietação também se mostra arredio para se desnudar deixando ‘às claras’ que não está preparado para lidar com seus medos, angústias e limitações da mesma forma com a crítica geralmente ferrenha e cruel. Por isso, o travestir-se, igual a um tapa com luva de pelica, choca ao colorir com matizes vivas e cítricas o que antes estava se perdendo, desnudando  novamente nossas limitações e inseguranças.


Creio haver na sociedade moderna um espelho sobreposto a tantos outros que mediante a imagem refletida a repete em distorções infinitas. Há roupas ousadas que para tantos ao serem apreciadas despem mais que a nudez do corpo que ali está, da mesma forma o oposto: quem nunca se sentiu tentado ao ver uma mulher com rosto coberto e imaginar que rosto ali se esconde? Vemos somente pelos espelhos. Analisamos as pessoas com o senso mais afiado do pensamento – o julgamento. Ficamos na pele e não adentramos as vísceras – camadas profundas que nos constituem. 

Essa superficialidade em nada colabora para chegarmos a conclusões pausadas que nos levam a uma reflexão necessária. Não estamos preparados para abandonar a casca da juventude e encarar as peles do envelhecimento, da qual nenhum ser vivo escapa. Não estamos preparados para a passagem crucial do tempo. Igualmente para as críticas negativas perante a não aceitação seja do modo de vestir, falar, agir, etc. 

Eis o motivo pela qual, na maior parte das situações, nos uniformizamos com as regras não só estipuladas pela moda, mas por tantos outros modismos: citando a exemplo o excesso de livros de auto-ajuda como fórmulas prontas para a abstrata felicidade, principalmente porque não estamos preparados para o que nos é inexorável – a Morte. E a cada nu que acontece, pois estamos sempre renascendo, sofremos por ter que maquiar o que é certo para toda e qualquer ser vivente.


Em nossas aflições de simples mortais e negando essa verdade como se ela fosse apenas uma remota possibilidade, agimos como insetos ensandecidos pelas ruas numa busca insana e consumista pelo que é considerado por muitos a permanente felicidade mesmo que momentânea e fugaz – mera utopia. Despimo-nos das roupas em nossos interiores mais íntimos, porém não nos despimos de velhos conceitos e ao escolhermos a fuga como o melhor caminho, enlouquecemos nessa sandice pela eterna juventude e padrões ditos ideais. Conseqüentemente, nos atamos não pelos pés em bolas de ferro. Nesse caso, é a mente, o pensar na vida, da vida e sobre a mesma em seu curso natural.
(...)
Desnudar-se requer coragem e libertação de preceitos e preconceitos.

Andreia Cunha
















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