Powered By Blogger

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PRO inSTITUIÇÃO





PRO–inSTITUIÇÃO
Considerava seu ‘ganha-pão’ honesto como qualquer outro. Não sentia vergonha em ser o que era. Exausta de tanta hipocrisia preferia nos últimos tempos encarar tudo. Nada de camuflagens.


Suas roupas eram extravagantes e mínimas. Maquiava-se com louvor, escondendo momentaneamente as marcas do rosto. Só não podia esconder a vida que tinha carregado até ali, seu passado pesado e as conseqüências interiores que levava como experiência.

Fora isso, deixava bem claro para quem quisesse ver que sua profissão era a vulgarmente dita como ‘a de vida fácil’. Ria do termo. “Fácil” seria em outras circunstâncias: berço de ouro, estudos e regalias que nunca teve a oportunidade de ter. Porém não queria reclamar do que passara.

Conseguir cliente exigia lábia e entrega de corpo que nem sempre queria o contato. Isso ela tinha aprendido a superar. Condicionava-o a querer, pois o que realmente não queria era passar necessidades. Tinha contas e compromissos pendentes.

Maltratava-se e igualmente a maltratavam. Homens rudes, ignorantes, poucos lhe eram gentis. Sua nudez nem sempre era reconhecida, pois esta era pornográfica e comercial.

Olhava-se por vezes no espelho. Via a necessidade de vaidades mesmo quando estava dentro dos padrões. Sendo mulher não era diferente das outras. Faltava-lhe ou lhe excedia sempre algo.

Possuía muitas histórias para contar: tristes, suspenses, dramas, e policiais. Cada dia uma aventura. Sabia que um dia uma aventura dessas acabaria mal. Sua bagagem de vida estava ficando densa demais para ser levada sozinha.

Num programa trivial, envolveu-se com um traficante desses procurados tanto pelos comparsas como pela polícia. No meio do ato, foram pegos por capangas armados.

Ambos nus baleados e mortos jaziam na cama enquanto o dinheiro era levado como pagamento da dívida. Duas vidas.
Di - vidas.

Andreia Cunha













Nenhum comentário:

Postar um comentário