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terça-feira, 31 de julho de 2012

A RESPEITO DE LOMBOS E LOBOS





Caríssimos, não escrevo para dizer verdades, meias verdades ou até mesmo inverdades. Também não pretendo falar do que gosto ou do que a maioria gosta ou desgosta só para agradar uns em detrimento de outros.

O convite foi o de pensar e quem sabe repensar o que se diz antes do se falar; o pré dizer sem necessariamente julgar. O analisar que o que se põe em palavras é um retrato verbal de quem se é no mundo. Doa a quem doer seja qual for o papel do ser na enunciação.

Sendo minhas palavras mais uma espécie de desconvite ao afago na cabeça das palavras e dos falantes e ouvintes, creio que os que se dispuserem a ler estarão dispostos a adentrarem e quem sabe não mais saírem desse universo múltiplo que é o falar moderno repleto de espelhos deformantes e desfocados que se prefiguram nas bocas dos falantes atuais.

Estamos perdendo o senso de crítica em relação ao mundo que nos cerca? O que mais nos causa ou descausa espanto? Estamos praticamente aceitando como normal a corrupção, as mortes banais, os usos e abusos morais, sociais,éticos,religiosos, etc colocando prefixos e perdendo o sentido dos valores? São os imorais regados a regalias, os anti sociais defendidos por leis, os anti éticos tidos como heróis...

Onde foram parar as rédeas do limite? Sob os coturnos do medo embutidos em nossas almas? Primeiro que não deveríamos ter rédeas. Essa foi uma figura em hipérbole para evidenciar o quanto a carruagem anda desgovernada apesar dos limites em governos, normas, regras e medidas...

Finge-se que se resolve, fingi-se que se aceita e se aceita por burrice a ‘anti-antice’ seria viável pelo viés da educação de qualidade e não ‘o deixa como está’. O saber relegado a último plano e em última instância aos períodos eleitorais – eleitoreiros,melhor dizendo, só reforça o nosso comodismo, a nossa reles aceitação com as vilanias que acontecem debaixo acima e ao redor de nossos narizes já incapazes de sentir o cheiro da podridão enquanto os fornos assam mais e mais pizzas em qualquer instância de pequeno poder.

Nosso falar não mais condiz com o real pautado na luz do pensamento refletido no ócio produtivo, talvez pelo excesso de virtual sem o exercício do questionar o que se passa e nos perpassa pelos corpos anestesiados do senso aguçado em todos os sentidos e direções.

A falta de tempo é mentira, estupidez e falácia dos que tentam nos embutir que Deus ajuda quem cedo madruga e que ser feliz é tomar um ônibus às 5 da manhã após uma noite mal dormida pelo dia anterior mal acabado quanto o hoje em continuação.

Fato é que muitos lucram com essa anestesia-veneno letal que continua vendendo seus tentáculos gosmentos agarrando-se ao poder seja de que tipo for: mídia, endinheirados e governos.

Não dispensar tempo para a reflexão do que se fala é o mesmo que aceitar a ração dada aos porcos como comida para se manter vivo para depois ir para a panela fumegar os lombos para serem consumidos pelos poderosos famintos por manter as brasas acesas.

Quem acordar verá...

Andreia Cunha




ESTIMAÇÃO

ANDREIA CUNHA

segunda-feira, 30 de julho de 2012

RASCUNHO - POR MARLENE CARVALHO (MIRANTE 75)



Este é um conto especial escrito pela amiga Marlene Carvalho a qual tive o prazer de fazer o vídeo. 

O texto foi inicialmente publicado na revista literária Mirante 75 e após divulgação utilizado em reuniões pedagógicas de escolas públicas.  

Posto-o agora como homenagem e divulgação do trabalho de escrita desta Professora de Matemática que tem na alma a perspicácia para olhar o mundo com a sensibilidade de quem sempre tem algo a dizer de tudo aquilo que simplesmente observou.

A você, Mestra e Amiga, meus agradecimentos por incentivar meu gosto quanto os de muitos alunos e ex-alunos pelo infinito universo dos números.

Andreia Cunha


A INEXISTENTE CLARICE PESSOA GUIMARÃES




Não vou me camuflar perante o mundo por receios bestas.

Não serei o que querem que eu seja.

Sou o que sou:

Um universo delirante clamando por entendimento interior independente das alheias opiniões que com dedos em riste possam enfim julgar como deuses e donos da verdade.

A minha verdade não existe.  Ainda a procuro sob os lençóis da vida e creio que não a encontrarei enquanto aqui houver vida. O que vejo não me convence e quando convence é porque me convenço de que o convencimento é a melhor solução para não enlouquecer mais do que sou nesse mundo de insanos.

Uma eterna procurante de sonhos sem pretensões de com eles formar pré-conceitos, apenas imagens de meu eu para meu mim, sem com isso querer atrair alguém para minha rede de ideias como se fossem únicas ou melhores.

O ser é único justamente por ter a capacidade de formar sua concepção de ideias e com elas seguir seus passos no mundo.

O seguir deve ser com clareza e pautado na experiência atrelada ao pensamento como conceito de realidade e não porque alguém disse para ser assim e acabado. Nada imposto por ordens verticais pode durar eternamente quando o ser acorda para entender que possui pernas e com elas caminhar sem as muletas antes tidas como auxílio ou apoio.

Em ‘A Paixão segundo G.H.’ Clarice usava o termo ‘terceira perna’. É muito cômodo andar com esse recurso, mas nada mais libertador e igualmente dolorido, prazeroso, aterrorizante e também gratificante do que se sentir livre no se expor perante si e o mundo.

Nada nos prende a não ser nossa mente debilitada por mesquinharias que como inseto na teia se debate sem resposta até a morte da mente em vida. 

Nada como o pasmo essencial do simples olhar sem ver e julgar, do ouvir sem necessariamente escutar com as antenas do juízo a postos para agir e do falar mais que o necessário sem a exata noção do que se diz.

Ah, viver é tão simples e ao mesmo tempo como dito por Guimarães Rosa: negócio tão perigoso...

Andreia Cunha





É, POIS É?



- Não, não quero falar de limites. Não quero um mundo quadrado que pensa girar e parado faz as maiores atrocidades em favor de diversos nomes incluindo Deus no meio.

Um mundo que queima pessoas vivas nas fogueiras de seus piores e profundos julgamentos, fazendo-as ironicamente mais tarde se tornarem figuras heroicas...

Onde os canalhas bandidos sentam-se às mesas mais chiques e são recebidos como Senhores Doutores da Esperteza.

Os limites limitam os que por medo doentio sabem o certo e o praticam por preceitos impulsivos que não sua própria razão.

É no instinto que seguram ‘a onda’ e mesmo assim são escaldados nos tsunamis de palavras e ações que desfiguram ainda mais isso que chamamos de humanidade. Aliás, nunca fomos e pelo jeito por muito tempo não seremos a imagem e semelhança de uma raça justa e perfeita.

A não ser por esse deus tosco criado que assentado num trono com força, instinto e poder controla, domina e enquadra o pensamento livre que clama por conhecimento como forma de quebrar as prisões da ignorância.   

Entendam, é o homem que cria esse deus e não esse deus que o cria a sua imagem e semelhança. Dureza é entender isso sob a ótica do fanatismo tomando como blasfêmia tais palavras.

Os grilhões da ignorância e o alcance de uma luz no fim do túnel estão além dos bancos escolares... Estão no seio da família destituída das figuras paternas que para proverem as necessidades básicas devem trabalhar até a máxima exaustão para suprir o desejo consumista – intitulado FELICIDADE da nação.

Também nos livros como meio de entendimento na ânsia de ressignificar o mundo. É o questionar o que nos dizem ser inquestionável. É o falar tudo com um ponto de interrogação no final e não se saciar com respostinhas ingênuas que mais parecem o ‘é, pois é...’

Cadê o sangue que corre nas veias, cadê o cérebro anestesiado por tanta mediocridade, cadê a expressão individual no mundo? E todos parecem criaturas uniformizadas por uma tal de moda que não é a do vestir o corpo, mas sobretudo a do vestir a mente, a alma para essa aceitação passiva ridícula de quem se conforma com a coleira e o pequeno espaço do quintal a pão, água e festinhas.

Não é a revolução instituída por armas é a revolução da mente: é a ideologia contra a ideologia. A anti-ideia da passividade nociva e paralisante, aquela que emburrece, que nos joga de quatro de joelhos ao senhor dinheiro tido como deus sob sua capa de amor e misericórdia seletiva para aqueles que lhe obedecem.

Andreia Cunha





domingo, 29 de julho de 2012

MAS QUEM É MAIS QUEM?




Um olha para o outro e fala:

- Ei cara tu é real?

- Sei lá... Mas que pergunta besta. De onde veio isso?

- Num sei... tão confuso que nem sei.

- Confuso com o quê, cara? Tu já nasceu confuso por natureza. Se liga que to achando que tu tá é mal... Comeu o quê? Bebeu o quê?

- O pior é que tu tá confirmando minhas expectativas. Às vezes, acho que to mais vivo no meu celular do que aqui falando com você. Aliás, esse céu meio artificial hoje.

- Tu tá aqui ou eu to desdobrado nesse universo virtual pensando que é real?

- Ih, ó, o cara pirou na batatinha!!!O céu normal, eu to aqui do meu jeito como sempre fui desde que nasci. Não vem com essa não que ninguém vai roubar minha sanidade, falô?

- Pelo jeito to sentindo uma carinha de dúvida de sua parte. O figura olha pros teus braços, olha pras tuas pernas? Tu acha que isso é pele ou pixel?

- Pô meu, claro que é pele e toda pele tem furinhos,pontinhos: poros melhor dizendo.

- Aí é que , parece tudo muito igual lá e cá. Aqui acolá...

-Cacete, tem um hospital psiquiátrico logo ali, vou te deixar lá, hein...

-P...q...p... mui amigo. Aliás: amigo da onça é melhor que tu, safado. Pensa que vai se livrar assim de mim tão fácil?

-Uai, é só passar lá e deixar o pacote. Te vira, rapa...Não sou tua consciência, nem grilo falante. Se tu não sabe de ti não sou eu que vou te dizer.

Ao passarem pela porta do hospital psiquiátrico ambos entraram, fizeram a ficha e aguardaram calmamente a espera gentil mesmo de quem tem plano de saúde nesse país tanto virtual quanto real.

Apenas um entrou na sala, aliás o outro entrou enrustido no bolso. Eram um só; Ele e o avatar, melhor dizendo, o avatar e ele... 

Inidentificáveis ambos já estavam em pé-de-guerra para se livrarem um do outro. Mas sobraria para o médico distinguir quem era o real quem era o imaginário.

Será que aquele hospital estava no plano do real ou do virtual?

Estabeleceu-se então a confusão geral...

Andreia Cunha





BANCO: DE TROCAS E TROCOS




Até então não sabia o preço de suas escolhas. Ainda jovem fazia o que bem entendia: suas trocas um dia lhe trariam o troco de seus atos impensados.

Fato é que também praticava atos do bem, afinal todos somos dotados de uma parte boa e outra não tanto assim. Sei estou evitando falar no oposto claramente, mas prefiro pensar que existe o bem e a ausência dele e não necessariamente precisamos nomear esse lado tão sombrio que em nós existe. Penso que reconhecê-lo já é um prêmio.

Voltando a origem do conto: a referida adolescente vivia sob as capas do agir mais do que simplesmente o pensar e, por isso, metia os pés pelas mãos com facilidade. Certo dia, acordou disposta a causar raiva em todo mundo que dela se aproximasse.

Sua raiva apertava em seus dentes de maneira que cada pessoa era um inimigo em potencial. Toda provável gentileza que porventura seria iniciada já era desbancada com sua voz irritante e seu mau humor sarcástico.

Por sorte, estava rouca, o que impedia que a ouvissem claramente. Suas respostas estúpidas afastavam o mais gentil dos seres: seu cachorro que se mantinha quieto no canto. O pobre já a conhecia e como resposta evitava ser o alvo da vez.

Arrumou-se e saiu com a macaca à solta louca para aprontar confusão. E as arrumou: com o vizinho que a cumprimentou, com a moça no ponto de ônibus, com o rapaz que sentou-se a seu lado, com o motorista e assim por diante.

Desceu ao som dos berros da multidão alvoroçada gritando ‘ih, fora, ih, fora...’ Por dentro, ria de tudo aquilo. O dia de muita gente já estava marcado com sua intragável presença. Havia contaminado muitos com seu abundante veneno.

Caminhava pelas ruas em movimento indo na direção de um comércio. Não sem antes gabar-se do feito. De repente, deparou-se com a porta de um estabelecimento comercial: era um banco famoso. A porta quase lhe levou o nariz.

À pessoa que se punha em sua frente desferiu-lhe as mais gentis ofensas como meio de causar mais uma confusão.

Os passantes e os de dentro do banco não se contiveram em ver tamanha estupidez e pensaram ser algo como uma pegadinha dessas de televisão. Ela brigava com seu reflexo azul que se punha a imitá-la em todos os gestos e atitudes.

Quando deu por si, já havia cometido a atrocidade. Cega por tanta raiva foi a sensação do momento e alvo dos piores risos. Humilhada por sua própria imagem teve de colocar o rabinho entre as pernas, não sem antes criar mais uma confusão com  toda a cidade que pareia ter se instalado ali só para ver o show de graça.

É, toda troca seja em palavras ou gestos tem seu troco, e o dela veio com algumas moedas atiradas em sua direção com valores irrisórios... Poderia, ao menos, tê-las juntado e aberto uma conta no tal banco que lhe proporcionou certas e duras verdades. O mais importante era que como adolescente, ainda tinha muito a aprender...

Andreia Cunha





terça-feira, 24 de julho de 2012

DENSIDADE





Perguntar, nesse caso, 
já é uma resposta...
Andreia Cunha

O raso e o profundo interiores
São apenas densidades medidas pelo homem
De acordo com seus medos.
Se os encara com mais ou menos coragem.
Meu eu pergunta para mim:
Até onde pode chegar sua densidade?

Até onde chega a minha?

Andreia Cunha





domingo, 22 de julho de 2012

A ESSÊNCIA DA ALQUIMIA



A ESSÊNCIA DA ALQUIMIA
CONSISTE EM TRANSFORMAR
A DOR
EM 
AMOR...

ANDREIA CUNHA


FASCÍNIO FASCISTA





A dúvida e a incerteza eram suas aliadas para se manter ativo na busca pelo conhecimento do mundo que nos cerca. De modo que o ponto de interrogação vivia em sua boca pronto a sair em mais uma entonação elevada como são as palavras de quem vive de questões. ‘Mas por quê?...’

Tudo lhe parecia novidade pedindo para ser descoberta. Não se contentava como a maioria em aceitações toscas de respostas vagas e incompletas. Era no fundo-dentro que queria instalar sua bandeira de quem desbravou caminhos picando as matas feito os bandeirantes.

Sua vontade não parava no fascínio fascista de quem com pouco se contenta e não mais observa por puro preenchimento do vazio que antes incomodava pela dor do dês-saber. Sempre havia algo mais a ser vasculhado...

Alma inquieta que inquietava os que estavam em redor. Seu foco principal era confrontar o que via, o que sentia com o que se dizia já solucionado. Muita coisa não assentava em sua mente como sol, lua, estrelas e a Terra em seus giros imperceptíveis... Nada condizia, nada se encaixava com o que via, fora o universo do mini-micro... Sempre uma festa para se remexer.

No entanto, a idade, peso cruel que o Senhor Cronos faz questão de aumentar ano a ano com 1k a mais no lombo dos mortais, o tornou um pouco menos ansioso e questionativo. Seu pasminho infantil foi aos poucos sumindo com o diminutivo da curiosidade e o aumentativo da dita ‘maturidade’ aliada à dureza da adultice e suas preocupações.

Tristemente o fascínio fascista lhe aquietou o pasmo e aos poucos como tantos outros mortais viu-se carregando os tantos fardos que lhe calaram as interrogações atualmente vistas como crianças chatas e inoportunas.

Pergunto: Por que vias elas andarão?

Andreia Cunha