Powered By Blogger

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O MEDO COMO ESTÉTICA SOCIAL



Atualmente, vivemos num mundo paranoico por controles. São câmeras, grades, seguranças como constante monitoração que falsamente nos oferece segurança. A arquitetura, o paisagismo, a padronização da moda até nossa intimidade em como vemos e sentimos o universo não escapam desse controle e estão impregnados desse medo denominado síndrome do pânico.

Estilizaram o medo como doença, porém não sabemos lidar com toda essa estética social que nos consome em atitudes de segurança em vigilância ostensiva. Shoppings seguros, casas cercadas com diversos aparatos tecnológicos, condomínios fechados nos quais tudo já existem dentro das quatro paredes são verdadeiras jaulas humanas.

O assunto é mais denso do que se possa imaginar. A massificação da cultura serve para que nos tornemos anônimos na imensa multidão evitando as diferenças que individualmente temos em relação aos outros. Talvez esteja aí um dos motivos do excesso de intolerância e preconceitos tão latentes no cotidiano atual, inclusive nos relacionamentos mais íntimos. 

O amor hoje é pautado no medo e na impessoalidade também nos descomprometimentos ou comprometimentos superficiais. Tememos o que consideramos serem as verdadeiras intenções do outro: podemos ser apenas objetos de satisfação do desejo alheio. Consequentemente, não há partilha, nem entrega sincera desvinculada de interesses. Tudo se resume naquilo que o outro pode nos proporcionar em troca.

Eis a mercantilização dos sentimentos. Não mais sabemos como lidar com o abstrato porque tudo tem que ter um motivo concreto, um interesse além do amor pelo próprio amor ou da felicidade pela própria felicidade desvinculado do materialismo puro.

Não digo com isso para eliminarmos o medo. Estudos atuais e antigos o comparam a um termômetro em relação aos perigos. Não podemos nos despojar totalmente dele mas também não estagnarmos por conta dessa indústria da qual somos os objetos de uso e enriquecimento alheio com a fragilidade da maioria. Há muita tirania na mercantilização do medo, pois este em excesso reduz a amplitude de compreensão do que é"real".

E o que é "real"? É não sairmos mais de casa, não colocarmos os pés na rua ou a cabeça na janela e construírmos muros ao nosso redor? E por fim, deitarmos em nossas camas esperando a hora da morte porque se levantarmos correremos o risco de cair? 

Muros, grades, cercas são medidas superficiais. Nosso comportamento perante o mundo é que determina nossa liberdade de ação. Uma câmera não impedirá um crime, um muro não impede que o pulem e isso vemos todos os dias nos noticiários. Caso contrário, se essas medidas realmente coibissem, tudo isso deixaria de acontecer.

Não tornar o medo uma ética apesar da estética pressupõe lidarmos com nossa liberdade perante a fluidez das escolhas que eventualmente fazemos. Isso não nos garantirá mais segurança, pois os medos não se dissipam, entretanto nos trancafiarmos em cadeias imaginárias igualmente não nos ajudará a lidar com esse sentimento que nos paralisa tal como o olhar da górgona que nos petrifica para a vida.

Andreia Cunha










Nenhum comentário:

Postar um comentário