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sábado, 13 de agosto de 2011

O DOSADOR DE PALAVRAS



Palavras podem ter um peso. E sua função era essa. Com uma balança de micro pesagem era possível saber quanto cada palavra poderia valer.

Desde pequeno conhecia que ter a noção de um nome, abre brechas para se ter controle sobre ele. Por isso, talvez Deus não se fizesse conhecer desde a época de Moisés e igualmente em outras civilizações era comum cada pessoa assumir dois nomes: um a qual todos sabiam e outro secreto que garantia proteção contra qualquer tipo de magia.

"Sou o que Sou" ao pesar tais palavras sempre aparecia uma incógnita tal como o pi matemático e seus infindáveis números desconhecidos.

 Fazia tantas conjecturas, quando pesava as palavras e este era um trabalho sem fim. Cada hora que lhe traziam um texto (e este poderia ser escrito ou falado) as modulações das possíveis expressões poderiam adicionar ou reduzir seu valor. Ironias, mentiras e hipocrisias não eram clara ou totalmente detectadas, mas pelo peso poderia haver suposições...

Aprendera o ofício com seus antepassados. Todos praticavam a arte. Tudo era muito minucioso e a calibragem da balança exigia constante verificação. Ato que aprendeu a amar vendo a figura paterna, tão admirada, agindo quando ele era apenas um garotinho.

A possibilidade de enlouquecer com o ofício era alta pela porcentagem de pesquisas antigas. Mas por experiência tinha noção de que a loucura não era de todo um mal. Bastava apenas direcioná-la para o foco criativo. O ruim era a loucura alienatória e delirante.

Sua mais nova invenção ainda no plano da ideia era o 'dosador de palavras'. Fuçava velhos conceitos e aliava-os a suas recentes descobertas. Tudo colaborava para a evolução do pensamento em concretização para a realidade.

Aliás, realidade não era bem a palavra correta, pois se Deus é o que é, dito na primeira pessoa, provavelmente nós apenas fôssemos uma fantasia presa na irrealidade da existência. Tudo isso, lhe dava muito trabalho para analisar a geringonça que flutuava no pensamento.

O conta-gotas teria que ser revisto pelas suas tantas bases de análise. Levava a vida nessa construção. E por tanta insistência o treco ficou pronto e perfeito.

Entretanto, a loucura chegou até ele, quando viu seu objeto sendo utilizado para tantos absurdos: discursos políticos, receitas de destruição em massa, ilusões, desfeitas de bondades, humilhações, etc e etc.
A visão distorcida do homem em relação a seu objetivo primordial fez com que desse cabo de sua vida enforcando-se com palavras entremeadas com clipes unidos formando uma corda resistente, na qual não teria condições de sobrevivência.

A dosagem para os humanos construírem palavras somente para o Bem ainda é passível de usos maléficos seja na superdosagem ou na escassez do remédio. Pela falta de tato e tino, tudo isso extraiu-lhe os juízos.

Andreia Cunha











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