Powered By Blogger

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

OS ETERNOS RETORNOS




Por qual motivo o homem insiste em retornar a velhos conceitos como meio de ascender no caminho da evolução?


Retornar ao passado é procedimento necessário, entretanto cometer os mesmos erros torna-se burrice como dizem os ditados populares.


O ressurgir de atitudes preconceituosas mascaradas de idealismos é pura demagogia dos que tentam seduzir multidões para seus preceitos enraizados em épocas longíquas entulhadas nos monturos da linha do tempo.


Mentes novas se deixam seduzir e fazem o terror de certas vertentes idealistas monstruosas serem revividas como uma nova cara, porém com o velho ranço. Tenho por mim que falta resgatar um tanto desse passado histórico não como quem o viveu ali apegado nas horas, mas com o distanciamento necessário para julgar tais atos e consequentemente retirar conclusões pautadas no lado mais humano possível. Afinal, seres racionais deveriam ser capazes de se colocar no lugar alheio. Seja lá quem estiver no lugar desse alheio.


Contudo, o que se vê é um resgate sombrio de radicalismos em prefixos de “neos” neo isso neo aquilo, ou pós... Considero o prefixo pós mais adequado quando o interesse é analisar o que para trás ficou. Neo nos passa a ideia de renascimento, resgate e por que não dizer o ressuscitar do morto e enterrado?


Pós-nazismo é bem diferente de neo-nazismo. O ressurgir do que se chama extrema direita causa-me calafrios em pensar que ainda vivemos o efeito cascata do que acontece nos países ditos desenvolvidos e que, portanto, a tendência é vivermos num futuro próximo situações semelhantes.


Aliás, algumas já ressurgiram embora não tão aberta e declaradamente expostas. O que por fim questiono é: Que mundo estamos semeando e plantando para essas crianças que ainda estão sendo geradas ou ainda estão na tenra idade e serão os futuros cidadãos do mundo?


Andreia Cunha



domingo, 29 de janeiro de 2012

O RISO DA VERDADE




“Quando a claridade diz: eu sou a escuridão, disse a verdade. 
Quando a escuridão diz: eu sou a claridade, não mente.”
Heiner Müller

Façam o que falo, mas não façam o que faço

Era uma vez...

Sim, esta história começa assim. Olhem, aliás, escutem, ou melhor, leiam (já que não me pronuncio com minhas palavras aéreas): e com atenção... Apesar do início medíocre, a história tem veracidade e quem não quiser acreditar, pelo menos saberá que em algum lugar algo do gênero pode realmente ter acontecido da maneira como foi contado, ou pelo menos de modo semelhante.

Portanto, deixo registrado aqui com selo reconhecido em cartório minha autenticidade e disso ninguém poderá me acusar. O pronome "me" representa meu ser enquanto narrador e não um enganador de mentes com falácias, sofismas envoltos em aparentes silogismos.

...Um rei. Havia um rei e era da França. Tinha em sua volta inúmeros ministros a qual delegava o poder de em voz alta propagar suas decisões sem que em público aparecesse. Preferia o contato com a plebe o mínimo possível. Sua decisão de se manter o máximo possível longe de seus súditos era por uma questão de respeito. Quanto mais difícil o contato, mais respeitoso e admirado seria por seus súditos.

Confesso que ele não se enganava quanto a isso, pois o povo o adorava apesar de sempre mentir quanto as suas decisões. Seus ministros tinham a política de que mentir era a melhor maneira de manter as massas quietas e tranquilas em seus casulos.

- Nada mais produtivo do que a mentira... Uma mentira bem mentida se transforma em uma autêntica verdade. Nada mais nocivo, corrosivo e corruptor do que falar a verdade para a multidão.

A seu ver, a verdade era o ser travestido com inúmeras capas e a mentira, enquanto declaradamente travestida, era mais verdadeira que a própria verdade que negava suas capas como ilusão.

E nisso era tão ardiloso que realmente o povo via sempre algo concreto como forma de comprovação da verdade a mentira contada. Para isso, escolhia o que o povo gostava e era sempre pelo gosto que pegava a maioria. Podiam ser jogos, distribuição de pão, benefícios e por aí ia.

Certa vez, fui escolhido para ser um dos ministros. Era novo ainda e sendo muito inteligente, o rei ouviu comentários e pediu para que me cercassem preparando para os estudos a qual devia passar para ocupar o cargo. Um banho de filosofia cínica e sobre os cínicos através dos tempos ajudaria na minha formação de Ministro do Rei.

Minha consciência precisava ser trabalhada e destituída das velhas normas para uma nova que me traria um novo EU.

Hoje, mediante minha retomada de consciência, a que considero verdadeira, percebo que um novo mim colou-se ao eu e passei a ser dúbio, ambíguo: dizia ao povo o que era mentira e passava a acreditar nela pelo fato de dizê-la tão verazmente quanto uma verdade.

Com o decorrer do tempo, passei a sofrer de algo estranho, pois nunca o soube como doença antes. O riso me tomava pela noite e desbragadamente acordava todos os Ministros do palácio mesmo que dormindo. Passei, então, a ser uma pedra no sapato do descanso alheio.

Fui analisado pelos melhores magos e médicos do Rei, afinal era o que melhor desempenhava a função. Estava prestes a ser o chefe de todo o Ministério. Passei a me analisar: o que afinal poderia ter desencadeado aquilo, entretanto foi o Ministro dos Magos que acertou no diagnóstico. Disse-me:

“ Ó louco, arquilouco, como é possível que em sua cabeça ruim se encontrem ideias tão justas misturadas com tanta extravagância”

A frase presente na obra de Denis Diderot soou como antídoto ao contrário. Passei a rir e ria tão loucamente que pensei que morreria de tanto rir.

Não conseguia pedir para parar aquilo, quando o Ministro  assim disse:

“ O que há de diabólico no riso que soa falso é que ele parodia aquilo que há de melhor: a reconciliação.” ( Theodor Adorno)

Parei instantaneamente de rir. As verdadeiras palavras como antídoto me fizeram perceber a reconciliação de meu eu e meu mim. Curado, vi com mais nitidez que jamais poderia permanecer naquele Ministério e nem naquele lugar. Supostamente, o vírus da verdade havia me contaminado letalmente para as funções a qual exigiam de mim.

Teria de fugir antes de levarem o verdadeiro diagnóstico ao Rei. Caso contrário, seria morto em algum esconderijo do palácio, pois em praça pública ficaria muito evidente ao povo certas verdades tão cruéis.

Não relatarei os detalhes, mas consegui e com a ajuda do Ministro dos Magos também conhecedor da verdade.

Hoje, vivo em um tonel peregrinando pelo mundo que é meu verdadeiro lar. Não pertenço a um local, sinto-me estrangeiro de qualquer terra. Porém o que gostaria de ter feito e não o fiz por falta de tempo foi justamente uma pergunta ao mago que me ajudou.

- Por que sendo um dos detentores da verdade sobre aquele reino, ele ainda assim permaneceu naquele local?

“Uma rebelião simbólica em uma cidade simbólica, 
apenas as torturas eram verdadeiras.”
 Jean Paul Sartre

Andreia Cunha





sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

GUARDE E AGUARDE



-Guarde e aguarde.

A ordem veio vertical e em tom intensamente imperativo.

- Não, não tenho de guardar minha fúria, esperar e muito menos aguardar. Com licença que quero passar e seguir meu caminho.

A do tom imperativo a impedia de seguir adiante em seu propósito. Não era afronta, a transeunte apenas queria continuar pela rua a qual estava e era importunada por alguém que se sentia a dona do pedaço.

Inúmeras pessoas passivamente se punham a esperar sentadas no chão absurdamente dispostas a obedecer ao ser que se punha em destaque como liderança.

Vestida de uniforme militar, roupa que, aliás, lhe caía muito bem pelo corpo forte e romano: ombros largos e cintura afinada com quadris simétricos à largura dos ombros. As costas? Extremamente eretas de quem se punha a ouvir muito o “barriga pra dentro, peito pra fora” durante a academia. Usava um vestido à moda Gestapo com botões grandes alinhados em dupla desde a altura do busto aos joelhos aproximadamente.

Sua pessoa impunha tanto respeito que mesmo que falasse abobrinhas seria ouvida em suas estapafúrdias considerações.

- Daqui só com o voucher devidamente preenchido e pago nos balcões de atendimento.

- Eu lá quero saber de ‘vaucher’... Meu direito se atém ao ir e vir e nada aqui indica necessidade de pagamento ou qualquer tipo de pedágio.

A proponente a enfrentar era uma garota simples no seu vestir informal e em cores basicamente neutras. Mas sua neutralidade estava somente nas cores e nas roupas. Seu ser era totalmente avesso a aceitações estúpidas de quem acha que tem poder e o assume sem esforços e medidas por conta da estupidez alheia.

Jamais se sentaria com os demais e achava sinceramente que agitar aquele povaréu era a melhor maneira de pôr aquele ser arrogante em seu devido lugar: a insignificância de quem se julga superior.

Alguns mediante a ousadia da garota começaram a perceber o quanto estavam sendo iludidos e como se acabassem de acordar de um transe hipnótico começaram a abrir as bocas em repúdio. Em menos de dez minutos aquilo se alastrou como fogo em pólvora.

Os aliados da militarista baixaram o cacete que comia solto as carnes dos insurgentes, que ainda assim não cediam às pressões. Eram pedras voantes surgidas do nada, bombas de gás em meio a barreiras humanas protegidas de escudos e armas letais. Cada qual se virava como podia, embora defendessem um direito comum: o de ir e vir sem regras estúpidas determinadas por quem se sentia acima das leis.

No meio desse tudo infernal, muito sangue, muita vida escorrida por onde o Mestre Idealismo passaria livre pelo tapete vermelho e seguiria adiante até o próximo posto onde existisse a humilhação e a altivez imperando sobre os ditos pequenos cidadãos.

Andreia Cunha











A POLÊMICA SACOLINHA X O DESCARTE CONSCIENTE DO LIXO DOMÉSTICO



Não sou antiecológica e sempre defendi e defenderei a vida como bem supremo a ser preservado seja em qualquer espécie e/ou qualquer situação. Entretanto, fato é que a não distribuição de sacolinhas no mercado não vai diminuir o uso desse material como forma de descartar o lixo doméstico.

Há os sacos vendidos em grande quantidade com 50, 75 e 100 unidades, de todos os tamanhos possíveis e imagináveis. As mesmas também continuarão a ser vendidas por centavos aos que não quiserem aderir a uma sacola de ráfia ou outro material.

O tratamento dado à questão com tal proibição é falho e medíocre, pois não cria alternativas para o âmbito maior do problema: o lixo doméstico e seu descarte. A medida apenas visa os grandes comerciantes, empresários dos megalomaníacos hipermercados e sua economia com o gasto com o que antes era um direito do consumidor: ter como carregar suas compras.

Por que não fornecem então os antigos cartuchos de papel pardo tão eficientes quanto as vilãs do momento? Às vezes o consumidor está na rua e se lembra de algo que precisa ser comprado e lá vai ele ter de comprar uma nova sacola, pois esqueceu a sua em casa. Imagine tal questão quando o cidadão retorna do trabalho e se lembra do algo esquecido no caminho onde há um mercado em questão?

O cerne do problema como disse anteriormente é priorizar uma educação que conscientize as pessoas a pensarem de maneira inteligente em como desovarem seu lixo com a competência de saber o que pode ou não ser reciclado. O plástico não deixará de ser utilizado e os mesmos problemas de antes continuarão acontecendo e talvez até em maiores proporções, visto que a quantidade vendida dentro dos mercados é sempre maior que a fornecida nas compras de duas latas de ervilha, por exemplo.

A falta de planejamento governamental é imensa e coloca o povo como estúpido e imbecil ao menosprezar capacidades de pensamento e alternativas para driblar o problema. Um governo que não preza pela educação e por seus mestres tenta sempre nivelar por baixo a capacidade de pensamento do cidadão as quais pensam domar como cavalos com rédeas curtas.

A grande maioria das cooperativas que lidam com o lixo são de ordem particular e partem do próprio povo que em mutirão trabalham para dar condições aos menos favorecidos economicamente para que possam ter o que comer e sobreviver nesse universo na qual os mais abastados consomem e jogam de qualquer maneira seus lixos e os outros que catem o que é produtivo para uma nova utilização.

A sacolinha apenas deixará de ter o logo do hipermercado. Será que com isso tais empresários alcançarão o reino dos céus com a morte de menos animais e a falsa proteção do mundo ecológico a qual eles estão tão distantes apesar de respirarem o mesmo ar que os que verdadeiramente se preocupam com o problema?

Creio que está aberta a temporada de compra de terrenos celestes.

Ladrão sempre protege ladrão.

Andreia Cunha








quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ASSOVIO LENTO NO VENTO ESCURO



Um assovio no vento escuro. Isso bastou para a criatividade fluir em seu corpo deitado e voltado para a sombra da imaginação.

Uma sensação de noite ao ler essa frase se assomou de sua mente até seus pés, agora galgantes na terra úmida do local ainda desconhecido a qual estava.

Inocente dizer que sabia mediante o escuro que lhe colocava no meio daquele cenário. Bem que poderia ser de uma história de terror, mistério ou suspense, tudo dependia da mente e dos correres dos dedos segurantes da caneta veloz.

Ah! Os ciprestes ao vento... Um cemitério! Seria óbvio demais, embora pudesse até sentir o clima romântico da natureza fria e sombria ‘enrodando’ em si. Era em si que a noite existia. Fechava os olhos e ela anoitecia na imagem impregnada de sons...

Como pode o vento ser escuro? Como pode ter cor o que apenas perpassa o ambiente que lhe é caminho?

Nenhuma terra é mais fértil do que a que regamos com palavras sementes de árvores envolventes no plano do significado.

A garota ali estava, ali ficou como personagem estática perante o mundo interior que lhe pertencia. Um cheiro de musgo com ozônio enquanto o assovio de repente ressurgia como meio de lhe dizer que algo precisava acontecer.

Mas ela não se movia. Não o fazia por medo. Medo do vento, medo do escuro e sobretudo de quem produzia o som que ecoava pelos ares escuros. Era o ser que para dentro se escondia o que mais temia. Sentia-se menininha a mercê das vicissitudes de uma floresta viva e noturna.

O cheiro do vento lhe fala perigo e instigava cautela e o não se mover passava ar de segurança. Exposta era e também estava na mesma posição sem ao menos se esconder.

Um gosto de dor misturado a vontade sumiço a faziam presa fácil. Parecia hipnotizada pelo veneno que lhe adentrara as veias por meio do ouvido. Ante o som do assovio, nenhum tambor primitivo ou clássico violino poderia desfazer o efeito.

Estava nela a noite, o vento e os sons obscuros. Amanhecer dependia dela. Única e exclusivamente dela no seu ela que lhe anestesiava os sentidos por medo.

Ela? Assovio lento no vento escuro.

Andreia Cunha








ENIGMA


O ENIGMA LHE É.
O ENIGMA ME SOU
EM ESSÊNCIA.
MISTÉRIO
ESSENCIAL DE MIM.

ANDREIA CUNHA


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

NARRATIVA-ENTREVISTA PSICOPATA



... "E por fim, eis que todos morreram daquele mal que assolou o povoado."

Esta narrativa começa com a morte. Sim... A Morte de todos os personagens.

Todos morreram. Eu, enquanto narrador e, portanto, criador abusei de meu poder e confinei todos os meus personagens àquilo que nenhum ser vivo escapa. Por isso, por que deveria libertar meus seres dessa bênção relativa à fenecência do corpo a qual temporariamente habitamos e a ele pertencemos?
...
Se eram pessoas? Não somente seres imaginários? Respondo que dentre alguns havia os que viveram sob a capa da realidade da existência nesse plano carnal; outros, meros frutos de uma mente fértil.Inegável mesmo é dizer: todos vivenciaram e também sofreram suas dores, seus amores, angústias e alegrias.
...
Afinal, que história contaria eu se as emoções – primeiras convidadas para a festa – não comparecessem? Elas são o Alfa e o Ômega do enredo.
...
Definir as personagens, como eram? Você se refere à descrição física ou algo mais profundo? 
...
Do jeito que me apraz? Digo: eram seres como nós aqui conversando, tendo suas necessidades em todos os sentidos. Entretanto, o que mais me destacou foi um psicopata.

Este me deu trabalho. Não esboçava sentimentos e seu silêncio resguardava algo que nem minha onisciência podia atingir. Ele me era conflitante e também revelador em sua frieza marmórea.

Dentro dele, um universo rico a qual não pude desatarraxar. Absurdo, mas isso me deixava confuso. Seus atos é que me causavam sentimentos, me revelavam em minha fraqueza de narrador.

Conversei com leitores que também se viram inquietos com o psicopata. Creio que tenha sido um dos maiores desafios de minha vida narrativa. Havia desdobramentos em cascata do psicopata nos demais seres que não se ajustavam com a mente daquele ser que era ao mesmo tempo tão meu quanto dos leitores com repúdio e desprezo por seus atos.

Víamos nele a prefiguração do mal que igualmente nos assiste em residência fixa nesse templo corpo em cuja alma está presente por mera sujeição divina.

Enfim, apesar da morte do psicopata personagem creio que ele ainda vive forte pulsando nos corações dos que passam os olhos, mas não leem, ouvem, mas não escutam, tocam, mas não sentem e por aí vai, em relação a todos os sentidos presentes nesses corpos ainda humano mesmo que personagem, leitor ou simplesmente narrador.

Andreia Cunha