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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A CÚMULO




Quando foi contratada, a casa estava em petição de miséria. O povo que ali residia era de uma bagunça tão grande que esta já saltava pelas janelas do apartamento. Eram livros, roupas misturadas a copos talheres, sapatos e restos de comida para todos os cantos. Diriam os mais organizados que aquilo era um verdadeiro chiqueiro, “inconvivível, inentrável”.


Assim que ela chegou, tudo começou a ir para seus respectivos lugares, pois os donos e agora patrões não conseguiam se organizar no espaço que deveria ser um lar. Na medida em que tudo foi tomando seu respectivo lugar, todos percebiam como era a casa e o quanto de espaço livre ela tinha no meio de tanta confusão.


Entretanto, nada é perfeito assim como ninguém também o é. Jucileide, a empregada, até que conseguiu o que antes parecia impossível: dar uma forma de lar em organização. Porém secretamente tinha uma espécie de fetiche. Gostava de esconder determinadas sujeiras embaixo dos tapetes. Era seu prazer secreto a qual teria de ter tato para conservá-lo. Até que não era difícil manter o vício. O maior já tinha sido solucionado: roupas, sapatos, livros e comida cada qual em seus compartimentos.


O fato é que até mesmo ela, Jucileide, se perguntava o motivo desse comportamento. Não obtivera resposta de forma alguma falando consigo mesma. O outro eu se calava embirrado na hora de solucionar sua curiosidade. Gostava de saber que cometia aquele delito sem ser notada, afinal tudo já estava tão em ordem! Os elogios eram freqüentes. Apesar de não notarem nada de estranho no tapetinho que já ganhava uma montanhazinha de sujeira acumulada. O resto da casa, a maioria do espaço, estava indo muito bem. 


Por vezes, ela parava e observava o montinho e ria que ria gostoso. Punha as mãos na boca escondendo os dentes como meio de não demonstrar ou denunciar seu ato prazeroso e proibido. Cada dia um pequeno Everest crescia. Temia que ficasse grande demais, mas ao mesmo tempo seria interessante se realmente nenhum dos moradores notasse. Como de fato aconteceu.


Pelo que se sabe o montinho virou uma imensa montanha, mas como estava embaixo do tapete, nenhum comentário ou reclamação chegava aos ouvidos da empregada. Tudo continuava perfeito. Tudo continuava normal, desde que permanecesse debaixo dos tapetes.

Andreia Cunha











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