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sábado, 27 de agosto de 2011

CECILIA DI BAGNOREGGIO

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. 
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. 
No fundo, isso não tem importância. 
O que interessa mesmo não é a noite em si, 
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, 
em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. 
(William Shakespeare)


Eu a conheci por intermédio de um sonho. 
Assim que nos encontramos, ela me ofereceu uma infusão dizendo-me se tratar de remédio para minha cura.

Era idosa de aparência não muito boa: faltavam-lhe dentes além de estar maltrapilha. Entretanto, sua alma era de uma beleza com a qual fiquei encantada mesmo sem termos maiores conversas nesse primeiro momento.
Vivia às escondidas pois era de um tempo de trevas em todos os sentidos, principalmente o religioso.

Chamava-se Cecilia e vivia num vilarejo chamado Bagnoreggio na região do Lázio, desconhecida até mesmo para os italianos atuais enquanto lugar de turismo.

Não sei como cheguei até sua pessoa. Lembro-me vagamente de três figuras: uma criança arteira, um adulto um tanto desinformado que me encaminhou ao um homem mais velho parecendo um sábio. Foi ele quem me levou até Cecilia.

Ela era uma mulher idosa mas cheia de vida e alegria, se dispunha a rir, mesmo sem seus dentes, aos que a ela se achegavam dessa maneira inusitada como a minha.

Percebi que não se prendia aos conceitos rançosos e rígidos de sua época.
Amava o conhecimento e o ansiava mais que a possibilidade de ser queimada viva numa fogueira.

Religião? Não seguia. Rir já era um desafio às leis religiosas e curar com ervas sem o intermédio da igreja era heresia. Por isso, seu esconderijo era nas alturas da pequena Bagnoreggio, entre suas vielas e construções de pedra também conhecida como "città che muore" atualmente.

Não sei como pudemos travar esse encontro, sendo de tempos tão distintos e distantes. Porém foi algo muito gratificante, repleto de significação e misticismo.

Tinha um marido: o homem mais velho que me conduziu até sua presença no início do sonho. Sua característica mais bela era a humildade e ela não tinha pudores em falar de assuntos proibidos para sua época, desde sexo até astrologia, plantas e mistérios alquímicos alcançados com sua aguçada percepção.

Da mesma maneira que cheguei até sua pessoa sem saber exatamente o porquê, 
também recebi a infusão sem 
ter noção do que estava sendo curada.

Dela jamais me esquecerei, pois acordei melhor do que na noite anterior. Provavelmente, ela continua através do tempo proporcionando bons encontros no entendimento de sua ciência e de sua simples presença.

Andreia Cunha














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