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domingo, 14 de agosto de 2011

ELA NUA E CRUA



Experimentei-a pela primeira vez em uma festa. Embora não fosse um quitute desses que só se come em ocasiões especiais. Era um casamento com jantar e tudo tinha sido muito bem preparado e organizado.
A escolha do cardápio fora feita a dedo, de forma que o novo ingrediente estava muito bem cozido juntamente com os demais que compunham o prato.

Estava tão delicioso, que os demais também se perguntavam o que poderia ser aquele toque tão diferente com sabor especial. Soube-se pelo chefe que se tratava de um broto aromático, com sabor carne e um tanto amargo chamado de Verdade. Quando misturado aos demais alimentos geralmente produz um efeito enigmático.

Pensei: nossa, isso é algo realmente fantástico.Soube também que era caríssimo quando encontrado devido a sua dificuldade de plantio e cultivo. Havia muitos detalhes e muita fragilidade na planta. Meu encantamento foi pleno pois adoro culinária como arte de transformação dos alimentos crus em magias saborosas.

Demorei meses para que o tempo ideal chegasse. Comprei logo uns 5 quilos, acabando com a verdade na "Barraca da Moça". Descasquei-as de modo que ficaram completamente nuas. O cheiro exalava pela casa, tal como um incenso. Há muito mistério nesse broto.

Fiquei tão inebriado que resolvi prová-la assim: nua e crua. Cheirei-a como vinho, cortei-a numa rodela como hóstia. A careta foi inevitável: do aroma fantástico ao gosto amargo e um tanto ácido. Não pude conter a mudança de faces. Antes sorria, agora quase chorava comprimindo a testa e as bochechas numa ânsia inevitável. Tive de cuspi-la.

Com isso, descobri que não estava preparado (assim como muitos) para encarar a verdade nua e crua, a não ser que esta esteja cozida e bem fatiada entre outros ingredientes de sabores mais suaves.

Continuo tentando, continuo tentando até hoje. Uma hora eu consigo. Numa hora ela desce.

Andreia Cunha










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