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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O SOBREVIVENTE-RESSUSCITADO



Saiu de casa já às pressas por causa do horário... Fazia frio e esquecera o casaco em cima do sofá... O marido percebeu e foi correndo a seu encontro... Mais que depressa, ela o agradeceu e foi para a rodoviária...
Chegando lá, uma pequena fila de espera para comprar a passagem... Segurava em uma das mãos a bolsa, uma mala de mão e na outra segurava o sobrevivente... Referia-se assim ao casaco que já o livrara do frio muitas vezes, mas que também por tantas outras quase o perdera por descuidos banais... Entretia-se com pensamentos, quando enfim chegou sua vez... Largou o que segurava momentaneamente para pagar a passagem... Ajeitou-se e foi para o ônibus que já estava para sair... Deu-se por feliz ao sentar-se em seu respectivo lugar não sem antes ajeitar seus pertences... PERTENCES? Meu Deus! Cadê o casaco? O CASACO?
Ah, Minha Nossa! Perdera de vez o sobrevivente? Agitou-se e inquietou-se de tal maneira que sua vizinha de banco teve de perguntar o motivo... Explicara com detalhes naquela típica desconcentração de quem ainda tem esperança de que tudo não passasse de um ledo engano... Mas nada... Era um sobrevivente muito estimado, além de ter custado caro... E agora, assim por mais um descaso do acaso o perdera de vez!!! Aconselhada ligou para o 102 para se direcionar ao funcionário do balcão que a atendera na compra da passagem... Demora peculiar de quem primeiramente fala com uma máquina... Mais uma espera para ser atendida pelo atendente com o número da empresa do ônibus para finalmente falar com alguém do setor... Conversa vai e vem e o ônibus já está a caminho de São Paulo... Nada encontrado!... Neide, a dona do casaco que nessas alturas já se apresentara para sua companheira de viagem, entra em franco desespero! Antes tivesse o deixado realmente no sofá... Poderia ser um indício do que estaria para acontecer... Passaria frio do mesmo jeito... Uma pequena ponta de raiva despontava em seu ser... Quando sua comoção por fim chegou ao lado oposto do ônibus... Caso o casaco fosse recuperado já não seria mais “o sobrevivente” trocaria seu nome para “ressuscitado”... Eram tantas as histórias que merecia ser rebatizado... Uma senhora de alguns bancos atrás a interpelou... Perguntando se por mera coincidência não seria aquela trouxinha acoplada numa redinha na traseira do banco a seu lado oposto encostado à janela.
Sua alegria não podia ser maior! Era ele – O SOBREVIVENTE... Elevado à condição de RESSUSCITADO de mais uma tragédia da vida moderna controlada por relógios e compromissos...
Seus agradecimentos foram tão marcantes que podíamos pensar que aquele casaco era uma extensão de seu corpo e de que sem ele, ela estaria como que nua, desprotegida um tanto desgarrada da vida...
Sorriu feliz e foi conversando com sua atual vizinha de banco os mais diversos assuntos... Até chegar ao destino antecipadamente marcado com a filha... Mas por enquanto guardara o coitado na mala de mão bem dobrado e amassado com muito amor para que desta vez este não fosse mais motivo de desatenções... Era uma manhã cinzenta e friorenta, porém com aquele reencontro de seu ser com sua extensão em forma de casaco tudo se tornou tão belo e colorido como se o sol raiasse e ela fosse um passarinho que reencontra o ninho e o aconchego do lar...


Andreia Cunha









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