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domingo, 29 de abril de 2012

RE REPETIÇÃO



Às vezes, a vida nos proporciona 
certas repetições 
para nos evidenciar verdades 
que antes não víamos 
com clareza

Andreia Cunha








sábado, 28 de abril de 2012

EXPRIMIR





Quero percorrer os caminhos que adentram teu ser:
Floresta viva intensa alegria e nela me perder
Quero nessas retas e curvas te encontrar
Para enfim de nosso profundo ver‘partilhar’
Quero novamente crer
Que nesse desejo querer
É possível mais que sonhos atrair
É possível igualmente sentir
A comunhão dos enigmas segredos
Que guardamos por medos
Mais que brinquedos
Da infância na mente a fluir...
Quero ao final sem arrependimentos partir
Sabendo que pude enfim meus  sentimentos a você exprimir...

Andreia Cunha





O SENHOR SÁBADO




Os dias decorriam na mais louca rotina: o levantar sempre a mesmíssima hora, o tomar banho para ir ao trabalho seguido do café geralmente rápido e sem gosto.

A casa? Durante a semana permanecia em perfeito estado de imundície acumulando o pó dos dias até que Sábado novamente batesse à porta convidando-a a pôr a coisa na mais perfeita ordem...

Mas o tal Sábado era muito sentimental e só batia quando bem lhe entendia apesar das horas marcadas para sua chegada. Os demais dias eram infinitos em duração até que garboso ele chegasse para enfim dar oportunidade de acabar com a bagunça dos micro-organismos festeiros que se alongavam em sair pela falta de tempo durante a semana.

Por fim, o seu hoje era sábado e como de costume vestiu-se a caráter. Armas em punho, roupa de guerra. O equipamento bélico era composto de vassouras, panos, baldes de água, produtos diversificados de limpeza e muita, mas muita disposição para guerrear e vencer a batalha.

Com certeza cairia na cama de modo melhor: tudo arrumado limpo e cheiroso. Sentia esse conforto até segunda-feira, quando tudo retomaria o curso do acúmulo de pós, pêlos e demais horríveis sujeiras.

Portanto, as melhores noites de sua vida eram feitas de sábados e domingos, neles percebia que chegava a ter sonhos mais agradáveis e tranquilos, isso quando não estava tão cansada que caia na cama feito um tijolo que despenca do vigésimo andar de obra em construção.

Ela considerava sua vida normal em comparação a dos demais companheiros de trabalho com quem convivia frequentemente. A vida não era uma companheira ruim era apenas uma professora severa e os dias como inspetores lhe determinavam a melhor forma de agir e também ocupar seu tempo.
Apenas isso.

Andreia Cunha





quarta-feira, 25 de abril de 2012

O FANTÁSTICO REINO DA ALIENAÇÃO




Cada vez mais, cada vez mais... Este era o pensamento que ardia e queimava nas mentes dos que se propunham a fazer algo pelo povo.

Mas o cada vez mais era relacionado a poder e não a ajuda humanitária. Quem adentrasse aquele pequeno universo era fatalmente corrompido pelas fantasias que ali existiam. Era uma verdadeira floresta de alheamento em comparação à proximidade com o real vivenciado pelos demais cidadãos sempre massacrados pela grande máquina a qual tinham que rodar as roldanas para fazê-la produzir.

Enquanto isso, no reino fantástico da alienação, pizzas do tamanho de mesas gigantes eram servidas para degustação enquanto o papo girava em torno do mais novo escândalo. Ao fundo, muita jogatina e fichas rolantes soçobravam pelo salão.

Cabeças com certeza rolariam, mas não as mais perspicazes e audaciosas protegidas pelas cartas que não eram as dos baralhos. Em algumas mesas havia risadas escrachadas juntamente com panças infladas tal como baiacus cheios dos ares fétidos a serem expelidos.

Outros, mais contemplativos, contratavam assessores para pensarem em estratégias absurdas para se livrarem da toca do coelho morto para novamente se juntarem as raposas e lobos velhos.

Aquele clima era o normal como ambiente de trabalho: e que trabalho – máfia capiciosa como massa amorfa e grudenta apegada às paredes, teto e luxúrias do palácio que comemora a orgia pré-nupcial entre a corrupção e os poderosos.

Enquanto o reino se sustenta sob esse clima, a maioria continua a girar a roleta russa para o jogo continuar seja com mais ou menos um babaca no salão.

Andreia Cunha


terça-feira, 24 de abril de 2012

A ESPERTEZA DO BURRO




Era uma vez um burro que foi forçado a crer que era só e somente um burro burro.  Desde pequeno, o pai o rejeitara por ter orelhas maiores que as de costume ao que a mãe tentava contornar, mas mesmo assim tinha vergonha de mostrar o filho em público.

Não sabia ele primeiramente o motivo de tanta esquisitice e repugnância com sua aparência até que um dia teve de ir para a escola. Ah, ali verdadeiramente começaram os seus problemas... O lugar que deveria ser de respeito e igualdade era na verdade a mais cruel faceta da sociedade a qual ele já estava por costume se habituando
.
Parece redundante falar em hábitos e costumes, mas era assim mesmo que Asliu, o burrinho rejeitado, começava a aprender a arte de viver e entender o mundo: sob a ótica das desigualdades o que o deixava só, triste e sem amigos. Por mais que desempenhasse bem uma atividade, nunca era realmente notado que dirá elogiado.

As aparências eram as únicas verdades a serem veneradas e assumidas como tal. Por descaso da maioria foi inicialmente nos gibis e depois nos livros que encontrou amigos reais mais que os carnais. Adquiriu muito conhecimento a ponto de causar certo ar de confiança em sua pessoa mesmo com o que os outros consideravam um imenso defeito.

Certo dia pensou:

- Não é nas orelhas que se instala o conhecimento...

Parecia óbvio o seu pensar, até mesmo inútil visto que nada do que pensara era A GRANDE DESCOBERTA . No entanto, para ele bastava aquilo como ponto de partida para sua virada inteligente.

Em absoluto segredo, transformou seu par de orelhas antes abaixadas e reclusas em duas potentes armas culturais. Haveria de ser por algum motivo especial que fora agraciado com elas. Aprendeu malabarismos, truques, mágicas e movimentos inusitados. Depois, dedicou-se a atividades intelectuais tanto na música, na literatura e nas novas técnicas de pintura auricular produzindo belíssimos quadros.

Quando começou a mostrar-se confiante e resistente às investidas dos outros burros, passou a ter o respeito que tanto merecia pelo esforço da transformação da dor em amor. Seus pais já não o viam como um patinho feio. Os antigos colegas de classe faziam questão de dizer seu nome e como eram bons amigos de infância.

Asliu odiava toda aquela hipocrisia e adulação, até que um dia repentinamente não mais andava de quatro como os demais. Passou a ter a postura mais ereta e comportamentos mais racionais o que o tornou um líder nato entre os seus.

Dali por diante já se sabe que uma nova raça surgiu. Sim, mas infelizmente confesso que não eram os humanos...

E essa é uma outra looooooooooonga história...

Andreia Cunha



segunda-feira, 23 de abril de 2012

A LOUCURA DA CURA OU A CURA DA LOUCURA?



LOUCURA
LIBERTADORA
CONTESTADORA
ANÁRQUICA E 
DESESTABILIZADORA
IDEIAS QUE BROTAM
FLUEM E JORRAM DO SER

QUERO MAIS É VIVER 
A SUA PLENITUDE

ASSIM ESTOU
DE CARONA 
NAS COSTAS
DE UM ELEFANTE
QUE ME CARREGA
PELO VAGO MUNDO DOS SONHOS
INCONSCIENTES E DESCONEXOS

A APARENTE CONFUSÃO 
É SÓ UM MEIO ESTRANHO
DE SE LER O MUNDO
AO REDOR... 
ASSIM É O MELHOR

ANDREIA CUNHA






TEATRO DO ABISMO DO VERBO INDIZÍVEL



Sou o verbo não conjugado
presente em um ato
de peça de teatro:
revelador do destino na morte 
àquele que o desvenda...
Venda

Andreia Cunha






DITADURA NONSENSE DEFLAGRADA POR MADAME SOUTIEN






Era uma reunião costumeira, mas que apesar de ser habitual volta e meia trazia gente com ideias novas. No entanto, desta vez havia visitas indesejáveis. A pauta do dia abrangia desde novas estratégias para atrair novos seguidores bem como a reforma de velhas reivindicações.

As discussões seriam abertas com a leitura da pauta e com a determinação de quem escreveria a ata, seguido por intervalo na qual um lanchinho apetitoso também seria servido.

Ao passar das horas e já com a presença pontual do líder, os integrantes foram se assentando para que o início enfim se desse.

As visitas indesejadas continuavam ali sorrateiras, mas ninguém se atrevia a perguntar quem as havia convidado para a festa. Um ar solene misturado a constrangimento exalava como perfume de quem havia pisado em porcarias indevidas pelo salão.

- Talvez represente dinheiro. Pensemos no lado positivo das coisas!

Uma madame rompeu o silêncio sepulcral com a frase bem no meio da leitura sagrada. Algo acabaria fora dos padrões.

Tudo fazia crer que alguém seria destituído do grupo pela audácia de levar aquelas duas para o encontro e talvez fosse a tal madame que pela frase denunciava sua culpa tão ingenuamente no seu dispensar de pensamento num modo inconveniente.

O problema é que todos, absolutamente todos sabiam da necessidade de consultas prévias para trazer convidados, o que não aconteceu com as novatas. As tais nem se aperceberam do incômodo que estavam causando, pois julgavam ser assim mesmo a reunião a qual participavam pela primeiríssima vez.

O líder teria que modificar alguns assuntos, pois fora pego desprevenido para lidar com tudo aquilo. O pior é que por estarem ali já implicava numa aceitação visto que conhecedoras poderiam muito bem sair contando os detalhes secretos.

Teve de agir rápido e criou um ritual a La momento para não perpetuar ainda mais o mal estar: - Fulana e Ciclana se apresentem a frente. Hoje tem início o ritual de aceitação de vossas senhorias como membros principiantes de nossas reuniões, mas para tanto deverão cumprir as seguintes normas:

- Deixar marcar a língua a ferro e fogo como prova de vossas sinceridades e lealdade a nossos princípios, e por já estarem aqui dentro não poderão dizer não. Caso contrário, não deveriam aceitar o que por razões muito óbvias não lhes convinha saber.

- Manter os olhos vendados a partir de agora como segunda prova de que adquiriram a paciência necessária para serem dignas de pisarem nesse solo sagrado.
- Ignorarem todo e qualquer comentário que nos julguem como quer que queiram...

- E mais: caso descumpram as normas terão seus belos pescoços a prêmio, mas isso ninguém sabe pois é um clausula que não está discriminada em nosso contrato assinado com sangue.

Visto que foram corajosas o suficiente para permanecerem: Começaremos o ritual e quem o fará é a Madame Soutien.

- Mas por que eu, acaso tenho culpa nisso?

- Não tem escolha cada um que traz novos seguidores tem de arcar com as consequências...

E lá foi Madame Soutien para cumprir o ritual sagrado...
Também quem mandou desobedecer as ordens alheias a ela em sociedade secreta? Deveria pagar o preço, pois...

Elas estavam lá, e como incomodavam!

Assim foi dito e assim se fez.

Andreia Cunha