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quinta-feira, 31 de maio de 2012

INSANA LUCIDEZ




Havia ali uma caixa. Seis médicos adentraram o local onde ela se encontrava. Fez-se silêncio total, completo e absoluto.

Muito sérios e cobertos de razão mantinham os óculos bem abaixo da altura dos olhos como se estivessem sempre lendo. Ela, assustada por ser interpelada por uma equipe, mantinha o corpo arregalado tanto quanto as pupilas acentuadas e evidentes.

Difícil seria examiná-la, visto que aquilo mais parecia um mutirão levando a morte do que necessariamente a cura para seus problemas de saúde. Para evitar desconforto, a seu lado mantinha uma caixa do tamanho de uma folha A4.

O conteúdo parecia ser pesado, pois era com certa dificuldade que a pegava quando queria se livrar dos chatos de plantão. Ninguém ousava desafiá-la a abrir o tal pacote: vai que houvesse uma bomba!

Ela só ameaçava pegar a caixa, olhava com cara de insana lucidez – a mesma que cega os doentes mais loucos – que todos se afastavam como que perplexos pelo que poderia depois disto acontecer. Pagar o preço? Ninguém queria.

Ouviam-se histórias de que em outros hospitais nada ficava no lugar para contar o que restava em pé após a abertura da caixa. Embora não soubessem se tratar de fato ou apenas boatos.

Em sã consciência nenhum dos que ali trabalhavam queriam arriscar a ser a próxima vítima da louca da caixa. Então a aturavam burlando algumas raras vezes os meios para aplicar-lhe os remédios.

Não era violenta, era até uma das mais pacatas o que a tornava até simpática no seu modo de agir. Mas com loucos não se pode confiar. Portanto, era só que a maior parte do tempo ficava.

Quando, por fim, partiu vítima de um surto intenso de lúcida verdade é que os médicos e enfermeiros puderam dar cabo do mistério. Com uma equipe antibombas e um pessoal especializado em objetos suspeitos é que puderem finalmente dar cabo  do enigma.

E o que lá dentro tinha?

Uma intensa gargalhada presa sob os dentes de uma muito desalinhada dentadura que insistia em se manter ativa até que alguém corajoso a libertasse para contaminar o mundo ao seu redor.

Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha...

Andreia Cunha




quarta-feira, 30 de maio de 2012

POEMOVO-OMELETE



Do tentar quebrar o ovo se faz omelete
Do tentar entender o mundo se faz O nOVO
aNdrEiA          cUnhA



Quanta pretensão
A do poeta em palavra
Nesse pequeno espaço
Querer expressar o mundo

O que fica é um profundo
Aguado gosto revirado
De quem compara
Tudo em confusão

O mundo é diversa profusão
E a palavra não compara
Com ela se repara
O que surge em ideias.

Essa enfim é sua
Tessitura em matéria:
Sangue e artéria...


ANDREIA CUNHA



SONHANDO não tão ACORDADO

ANDREIA CUNHA

domingo, 27 de maio de 2012

A PRINCESA INTELIGENTE E O CASO DAS MOSCAS MORTAS




Eram todas mortas e já estavam assim há algum tempo. Todas haviam pousado na sopa e por isso, o castigo com a não existência prevista no pif paf em raquetes.

No entanto, possuíam almas e estas eram cultivadas pelas ideias passadas para as futuras gerações que as alimentavam em teorias e atos.

Portanto, por mais que muitas levas pudessem ser dizimadas outras tantas viriam para engrossar o caldo.

E nada pior que mosca em reino onde só se alimentam de sopa. Eram verdadeiras pragas. De modo que para se livrar do inferno, um concurso foi feito e ao vencedor o rei daria gentilmente a mão de sua filha em casamento.

O problema é que a filha do rei era muito, mas muito inteligente e inteligência em mulher é pior que a feiura na maioria dos casos. Os pretendentes choviam aos montes tanto quanto as moscas em nuvens avassaladoras.

No entanto, outro fato também criava mal estar nos corajosos de plantão: estar à altura dessa joia preciosa de figura feminina, caso contrário o vencedor correria o risco de se transformar em peteca na mão da princesa.

Contra a inteligência, só mesmo a inteligência. A força é só um subterfúgio infeliz e covarde. No dia marcado para as mostras, eram tantas as maluquices que a princesa recoberta pelos véus protetores se esbaldava em ver tantas armadilhas contra moscas que mais pareciam circos prontos para o espetáculo.

A cada um que entrava as moscas davam o baile, dançavam ao som do bem pago e estimado André Rieu com suas valsas e orquestra hiper afinada.

Caso fosse um jogo, o placar estaria vergonhosamente marcando mais de 30 X 0 para as moscas. Porém, sendo um baile nenhum dos pretendentes foi o felizardo em tirar a princesa para dançar.
Teve ela mesma que se unir às moscas e comemorar o sucesso das benditas. Ao som de sua flauta mágica, a princesa as conduziu para um pântano bem distante.

Mas vocês podem me perguntar se a princesa foi até lá... Não caro leitores, ela não foi até o pântano mal cheiroso enlamear seus lindos pés na podridão. Sendo a flauta mágica, havia um meio de fazê-la tocar sozinha até onde fosse o local ideal.

Mal sabiam que a flauta tinha um demo e que equipada com um GPS as moscas hipnotizadas seguiriam o som por onde quer que ele fosse.

E a princesa foi feliz para sempre só e somente com ela mesma. Casar era apenas um detalhe a qual ela mesma teria que tomar a decisão sem a interferência do papai.

Andreia Cunha





SONETO DE MÃE PRA FILHO


"Hoje em dia, os nomes já não possuem significado. O que importa são os números: o número da conta, da identidade, do passaporte. São eles que contam." 

José Saramago


QUERO TE DAR UM VERSO
QUE NUNCA FOI MEU
POIS QUANDO ELE NASCEU
JÁ ME DISSE QUE ERA TEU

É UM NOME MUITO AMADO
QUE PARA TI FOI INSPIRADO
MESMO QUANDO AINDA
SONHO SÓ TE ERAS

E SOMENTE EU QUISERA
NESTE ESPAÇO TÃO SENTIDO
TE DAR O QUE ANTES REPARTIDO

TE PERTENCE POR AMOR
DE QUEM TE CRIA, TE CRIOU
RIU E POR TI TAMBÉM CHOROU.

ANDREIA CUNHA






sexta-feira, 25 de maio de 2012

ARTE A PARTE




É somente uma menina impaciente
Que quando se une em significado
Deixa a arte tomar forma
Em figura e repentes

Sem necessariamente
Pensar em ser serpente
Percorre em volteios
Os caminhos sorrateiros
De um amor traiçoeiro

Também um lampejo em amizade
Um amor sem maldade
Pensamentos de igualdade
Até chegar a sonhada felicidade

Seus reversos fazem parte
Dependendo de como com ela agem
E as transformam em saudade

O importante é lidar
Saber amar e conquistar
Seu universo de verdade.

Ela é a letra e eu sou a palavra
E não há quem nos aparte.

Andreia Cunha






O HOMEM DO SONHO




Sonhei um homem...

Era perfeito dentro de suas possibilidades de perfeição. A seu lado uma roupa de mergulho e mais adiante um escafandro, ambas a convidavam para um mergulho. Cada uma dentro de suas condições de profundidade.

Ele, entre calmo porém um tanto ansioso para iniciar o sonho narrativo, percebeu que logo ao nascer, teria que escolher uma ou outra. Tarefa difícil justo para ele que viera ao mundo já adulto e pronto.

Pronto é palavra pretensiosa e isso  só era justificado em suas estruturas externas. Acolheu o escafandro como modo de mostrar que apesar da pouca existência definida ainda por segundos era capaz de ir além dos limites do próprio criador que o desafiava como narrador a tarefas aparentemente difíceis.

Não tivera infância, não sabia se teria figuras representativas de pai e mãe e até irmãos. O que verdadeiramente importava era aquele quadro na qual fora colocado e que por isso mesmo nascera.
Algo inexplicável começava a doer-lhe na alma. Era a dúvida nascendo em seu coração e mente. O princípio do ponto de interrogação começava em seu cérebro e se fixava no ponto vital de seu corpo chamado coração.

Vestiu o escafandro para que a dita dúvida em dor não o consumisse em algo que tentava derramar de seus olhos. Mal sabia que um outro antes dele já havia chorado o suficiente para encher um oceano, o mesmo o qual nadaria agora.

Sem maiores ajudas adentrou a embarcação que o aguardava com a equipe que o auxiliaria. Os integrantes pareciam entender o que deveria ser feito e, por isso, muito mais experientes em vivência do que ele, marinheiro de primeira viagem.

Nada fazia a dúvida parar de crescer dentro de si e já era o momento de adentrar as águas primeiras até as abissais. A serenidade e os sons do interior marinho seriam seus companheiros. Teria de lutar contra eles para não enlouquecer sem as palavras que o haviam formado como criatura primordial da comunicação.

Tarefa árdua a sua. Mas se fora criado para tal é porque em si havia estrutura suficiente para enfrentar com destreza. Não sabia exatamente, mas pensava assim para confiar em algo superior a tudo que teria de desempenhar sem maiores verdades racionais.

Já não havia chão e as cenas ondulavam em seus olhos recobertos pela proteção da roupa. Tudo era realmente divino naquele interior, pena que poucos tinham a chance de ver...
Era comovido e estava tocado pelo Superno que o alimentava com maiores surpresas. No entanto, a dúvida também o enchia como se furada a roupa estivesse deixando aquelas águas sucumbirem seu ser...

Já era tarde para parar de derramar o líquido dos olhos, era muita verdade para uma só existência e o oxigênio era retirado do ar, não da água avisar os superiores não lhes daria tempo suficiente para retirar do oceano sem totalmente ser inundado pela próprio oceano que de si brotava em lágrimas, suor, urina e sangue.

De modo que se deixou inundar ali como se aquilo fosse o motivo de sua existência: avolumar as águas. Era verdade demais para um só corpo frágil e sua mente desperta pressentia que a morte não se detinha ali naquele corpo frágil e fugaz. Entre um misto de felicidade e angústia produzida pela dúvida que agora formada e brilhante se desprendia em onda e peixes o consumia e o elevava a condição de mestre.

Entre nadas que nadam começou sua nova existência.

Andreia Cunha








quarta-feira, 23 de maio de 2012

A ESPERA E A ESPORA





Abriu seu e-mail logo pela manhã. Lá estava a mensagem em resposta àquela que havia enviado na noite anterior. O conteúdo diferente do proposto era um pedido de desculpas referente a um mal estar pessoal em relação a seu dia de trabalho.

Chateada e comovida por também já ter enfrentado dias de teor semelhante, resolveu enviar um torpedo. Deitou-se na cama para ficar mais confortável, escreveu e enviou a mensagem. Como se o tempo tivesse parado por conta daquilo, ficou ali à espera de uma resposta.

As palavras escritas em conteúdo não lhe saíam da mente e imaginava a reação do outro ao receber, releu bestamente umas três ou quatro vezes o que enviou e para distrair resgatou as mensagens anteriores. Mas nada de uma resposta. Seu tempo ali parado enquanto o real disparava em galopes esporeados por cavaleiro feroz.

Recriou a cena imaginando o cavalo Tempo tristemente esporeado e machucado em suas ancas pelo cavaleiro Pressa que não adiaria seus compromissos por conta da lerdeza de um animal mimado e mal mandado.

Levantou-se, pois a cena era forte demais para tomar conta de sua mente, as esporas pareciam doer-lhe na alma e para anestesiar tal pensamento nada melhor do que agir. Levantou-se do momentâneo ócio e pôs a organizar as tarefas como se enchesse a mochila para ir à escola da rua e da vida desembaraçar os nós que alguém os engatou.

Andreia Cunha