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domingo, 31 de julho de 2011

NA QUEDA DE MEUS BRAÇOS



NA QUEDA DE MEUS BRAÇOS

ANTE A FORÇA IRREVERSÍVEL DA SAUDADE
MINHA ALMA AGITA, MINHA ALMA TREME
SOU INCAPAZ DE LUTAR COM O ABSTRATO- INVISÍVEL DA MALDADE
E O SUOR DA FRONTE NUA ESCORRE LENTAMENTE

E DO DESEJO ARDENTE DE REVERTER TODA FRIEZA
QUE AO ALCANCE DE MINHAS MÃOS
NÃO CONSIGO APALPAR
VEJO TRANSFORMAR-SE EM TRISTEZA...

NÃO VEJO O TEMPO COMO AMIGO
NÃO VEJO A HORA COMO ALIADA
E NEM O DIA COMO ABRIGO

SÓ VEJO CADA MINUTO COMO LÁGRIMA
PINGO QUE ENCHE O COPO VAZIO
QUE AMANHÃ MATARÁ MINHA SEDE TRÁGICA.


Andreia Cunha







NAS CARTAS DE AMOR  CONSIDERADAS RIDÍCULAS (POEMA BEM EXPOSTO POR FERNANDO PESSOA / ÁLVARO DE CAMPOS) PODEM NOS CHAMAR DE BREGA OU PIEGAS, MAS JAMAIS DE NÃO TERMOS VIVIDO OU PELO MENOS TENTADO. 

POR QUE PRECISAMOS DOS DEUSES?



O que seriam dos deuses se nós, humanos, não os criássemos? Sendo estes como figuras mitológicas que nos amam ou odeiam e conosco têm filhos ou como um ser superior hierárquico assentado em um trono de nuvens, somos nós que os vivificamos em imagens ou símbolos com nossa mais pura necessidade de apreensão e entendimento do mundo. Repito novamente a pergunta expandindo-a em significação: o que seriam dos deuses se por um acaso tudo seguisse o padrão da moralidade e da retidão? Não haveria necessidade de religião com normas ou regras, pois seria inútil criar leis para aquilo que não nos incomoda ou gera conflitos.

Entretanto, somos seres atormentados e complexos, desestabilizados e insuficientes para dar sentido ao universo sem a criação de algo que extrapole o senso racional. A racionalidade é dura demais para ser vivenciada cruamente sem uma explicação sobrenatural.

Nós nos somos insuficientes na compreensão do mundo que nos cerca, precisamos ardentemente de mitos, lendas e figuras heróicas que sustentem o universo dicotomizado entre céu X inferno, claro X escuro, bem X mal, etc para justificarmos a moral, a ética e até mesmo o senso de justiça as quais os homens tentam exercer mesmo que às cegas de juízos errôneos. Necessitamos nos mover nesse terreno mesmo que em círculos a qual denominamos evolução. E aí ficam diversas questões entre elas: será que toda a evolução se move para o supremo bem pregado nas mais antigas (e novas) religiões? O que seria então o BEM e o que seria o MAL além da moral religiosa?

Não creio em unicidade de respostas e sinceramente descreio da linearidade de curso da História. Vejo na oscilação das vertentes uma forma mais próxima a uma verdade do que necessariamente uma linha plana. Presenciamos no cotidiano, situações que por vezes nos remetem ao mais puro espírito medieval, nas barbáries ainda hoje cometidas em pleno século XXI, tais como líderes incitarem a guerra e o derramamento de sangue bem como louvarem o dinheiro num ato de egoísmo e egocentrismo puros.Tudo em nome de deuses criados pelas mãos e mentes humanas. Igualmente vemos os avanços tecnológicos e o nascimento de uma consciência ecológica mediante as intempéries da natureza que descontrolada mostra seu descontentamento com os mortais também com justificativas divinas.

Nossa liberdade de escolha se move pautada em conceitos estabelecidos por critérios morais e/ou éticos, mas até que ponto tal moralidade ou tal ética estão ou não vinculados ao medo do desconhecido pregado pelas religiões e seus deuses esmagadores? Ou até que ponto delegamos o comando da dança do absurdo de nossa existência à figura que julgará nossas tantas atitudes?

Portanto, é muito mais fácil criarmos seres superiores que se preocupam com essa ínfima raça que é menor que um grão de areia na infinitude do cosmos do que assumirmos nossas inseguranças e atitudes como sendo nossas e sem sentido perante a incógnita das perguntas essenciais: quem somos? de onde viemos? e para onde vamos?

Difícil seria uma verdade como a expressa nessa frase de Horkheimer: “Somos uma raça de exilados, abandonados à própria má sorte, na qual ninguém ‘cuida’ de nós.”

ANDREIA CUNHA















DOMÍNIO SECRETO





Há verdades que transcendem nosso pequeno entendimento de mundo. Essa que contarei é uma delas. Atenho-me ao fato de ser somente um portador desse relato... Cabe ao leitor julgar se é verdadeiro ou não.



Nós nos julgamos os donos do mundo. Na condição de seres racionais, achamos que mandamos e desmandamos em tudo o que é suscetível as nossas mãos. Mas, amigos, digo-vos que somos apenas fantoches de uma raça bem menor que nos comanda com pulsos de ferro sem que saibamos disso, é lógico... Eles nos dão essa falsa condição de líderes porque também se alimentam de nosso sangue, suor e lágrimas... Sim, somos a máquina que os sustentam, pois se quisessem poderiam já nos ter dizimado há muito tempo.



Possuem um governo de primeira linha e que não se detém a ganâncias perniciosas como o nosso... Sabem dividir e compartilhar seus achados e lucros, por isso são tão eficazes e secretos até o dia de hoje... Não se perdem com brigas entre Estados, na verdade, pelo que soube, não possuem Estados, mas um líder que ouve democraticamente os demais cidadãos e todos almejam o bem comum...


Nada de vantagens ou jeitinhos... Estou adiando falar o nome dessa raça poderosa, pois sei que é ridículo, sinto-me envergonhado por saber disso e ter de passar como um fato do que ouvi nessa noite conturbada de sono e sonhos... Pesadelos, para ser mais claro... Fui dormir com eles em meus ouvidos... Zuniam falando em sua língua mistérios de planos secretíssimos.



Eram mosquitos... Eles são a raça poderosa de que tanto falo... Apesar do tamanho ínfimo, eles possuem o saber supremo de donos do universo. E nós achamos que inseticidas resolvem... Mero banho para eles que se multiplicam em números vorazes a cada perda... Sem contar que a tecnologia criada por eles está cada vez mais eficaz no controle dos pesticidas, inclusive nos meios rurais...


O que julgamos como zunido é o meio mais eficaz de comunicação... Para decifrar seus códigos são necessários anos de dedicados estudos de sua lingüística e de sua Literatura Zunissonora... Chamada dessa forma de maneira carinhosa e também respeitosa...


Entre eles, já é possível saber onde acontecerá um ataque de pesticidas para combater seus soldados mais ativos - o causador da dengue e em segundo lugar o causador da febre amarela. Há uma comunicação tão perspicaz que horas antes do ataque humano, eles já estão passando a informação e encontrando refúgios... Por isso, digo-vos, eles poderiam nos dizimar. Não o fazem por quê?


Oras, realmente somos ingênuos... Somos sua principal fonte de alimentos... Nosso sangue é o que eles chamam de néctar da vida... Principalmente, com nossa alimentação lipidinosa e enriquecida... Somos nós também que, com nossa falta de higiene e desorganização social, construímos seus melhores criadouros, berçários para seus belos bebês mosquitos...


Enfim, somos jóias preciosas para a perpetuação da espécie que nos domina... Fora isso, arquitetam planos para décadas em que manipulam os governos de suas presas, mandos e desmandos sem que, nós, as vítimas, saibamos que dançamos atados a bolas de ferro nos pés, enquanto somos consumidos pelos excelentíssimos mosquitos...


Quando fazem reuniões é como se estivessem em uma sociedade secreta e, por isso, o dever de obedecer a rituais milenares, mas que são eficientes na coesão do grupo como um todo detentor de poderes grandiosos e inexoráveis... Riem de nós, mortais humanos, que nos julgamos pela estatura e inteligência, mas que na verdade somos controlados com rédeas curtas e invisíveis... Qualquer um que tente desvendar o segredo oculto é atacado letalmente e não resta para contar a verdade aos companheiros humanos, parceiros na defesa do bem comum...


Em suas reuniões, eles gargalham de nós... Vocês não imaginam, somos alvos das piores piadas... As mais maledicentes... Taças e mais taças de néctar são consumidos e, por fim, já fartos dormem o sono dos justos... Sim, JUSTOS, pois merecem o título pelo governo hiper bem organizado e verdadeiramente democrático que possuem... Empanturram-se em bacanais semanais nos quais arquitetam planos de eficiência de causar inveja até mesmo às abelhas e às formigas enquanto comunidades reconhecidas pelos humanos... Riem e se embebedam enquanto devoram os homens em sua ganância por dinheiro e poder... Péra lá... Mas...
O que é isso?... O que vão fazer?...Pra que essa roupa branca?...Expliquem-me por gentileza... Pra que isso?...Camisa de força?


Não, por favor, não me tirem daqui... Quero meu recanto de paz e sossego... Deixem aqui... Socorro... Isso é obra deles... Caros leitores, estou sendo levado, são humanos hipnotizados que estão me levando para a câmara da morte... Salvem-me... Injeção, não in je ç ã o n~~~~ão... So c o rr...

ANDREIA CUNHA













sábado, 30 de julho de 2011

LACUNAS DE UMA VIDA



Das cartas que recebia uma lhe chamou a atenção. Não pelo remetente, pois já era de costume aquela pessoa o escrever. Chamou lhe a atenção especificamente o conteúdo. Era de um amigo que não o via há anos, mas que por costume trocavam correspondências desde então.

Comentavam sobre os velhos tempos de faculdade, as amizades de bar e as garotas . Ah as garotas! Reviviam momentos deixados para trás por conta do tempo que veloz segue seu curso sem dó ou piedade.

O que causara espanto foi que de repente as cartas vinham com umas brechas que aos poucos foram gradativamente aumentando a ponto de comprometer o conteúdo. Sempre que perguntava sobre o motivo das brechas, a carta vinha com a respectiva resposta repleta de lacunas.

Começou a pensar que talvez o amigo estivesse brincando com sua cara numa gozação daquelas de juventude bem características dos velhos tempos que viveram. Por vezes queria ligar ao amigo, mas com os compromissos da vida com família e netos já não tinha tanto tempo a sobrar. Em outras oportunidades também se esquecia de procurar o telefone e acabava ficando mesmo para depois.

Sabe-se lá quando era o seu depois. Agora nessa ultima carta vinha apenas a saudação legível e os outros tantos escritos eram palavras não muito significativas como artigos, preposições e alguns pronomes. Não dava sequer para saber de qual assunto realmente escrevia. Como responderia a bendita? 

Resolveu partilhar com a mulher para ver se o problema não estava com ele. Poderia eventualmente estar enxergando mal. Não era possível que o amigo estivesse tão ruim ou levasse tão a fundo uma brincadeira! Resolveu ligar, porém o número já não era mais o mesmo e na insistência falava sempre com a voz da caixa postal. Era terrivelmente irritante para ele ter que falar com uma máquina. São frias e insensíveis. O fato é que nunca obteve resposta.

A situação estava tão preocupante do seu ponto de vista que cogitava até mesmo fazer uma visita ao amigo, mesmo sem ter como avisá-lo por conta das ligações não atendidas. E foi o que fez. Estavam morando distantes, numa cidade a qual não conheciam a não ser por comentários em cartas, quando estas ainda vinham inteiras.

Embarcou no ônibus da noite para chegar à outra cidade ao amanhecer. Isso lhe daria tempo para procurar a rua e não ter tantos gastos com hospedagem para uma noite apenas. Mas os pensamentos são sempre surpreendidos com a realidade dos fatos. Já na rodoviária pediu a um taxista que lhe informasse onde ficava a rua que constava no remetente. O taxista a desconhecia.

-Olha meu senhor não nasci aqui, mas moro nessa cidade há mais de 20 anos e sinceramente não conheço essa rua não.

A resposta foi uma surpresa, pois considerava que os taxistas pela profissão que exerciam deveriam saber os nomes de pelo menos quase todas as ruas que a cidade tem. Tentou um mapa, mas era muito complicado para sua visão envelhecida e os óculos não facilitavam. Posto de informação, e outras tantas pessoas pelo caminho. Nada, ninguém sabia do tal endereço.

Chegou a pensar que estava maluco. Será que estava na cidade certa? Ficou tão desnorteado que conferiu os tantos envelopes que trazia, constava o nome certo da cidade e inclusive o Estado.

- Santo Deus, isso parece uma brincadeira e de mau gosto.
Não compreendia que todo o seu trajeto lhe direcionava a um só fim. Sentia-se uma pulga em meio aos pêlos de um animal maior. Um verdadeiro emaranhado na qual nada compreendia do que vivenciava ou poderia acontecer. As lacunas já não eram no papel... Transpunham-se para a vida de agora e no sufoco do não entender, não saber.

Vagou dias na cidade e na rua porque já estava com a sanidade comprometida pelo tanto tentar entender o que para ele já não tinha mais explicações.

Fora encontrado sujo e mal trapilho dormindo num banco de praça. Seus familiares já estavam a sua procura. Não sabia nem seu nome, nem seu endereço. “Perdido como uma pulga em um animal de grande porte”. Em seus pertences diversas cartas na qual constavam seu nome, seu endereço e um recado da família com seu diagnóstico. Portanto, das cartas que recebia uma lhe___________ a____________ . Não pelo ______________, pois... _______________

Era a dele mesmo - sobre sua atual vida...

Andreia Cunha