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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PESCADORES PECADORES




Recostei-me nas alturas da ilha para escutar o som do silencio através da natureza e das ondas do mar. Precisava aprender a ser água naqueles momentos em que vivia. O motivo também era o de assistir ao por do sol. O dia estivera lindo apesar das agruras de ter de lidar com a arte da guerra diária e das máscaras com o teatro do ambiente de trabalho. 

Subi ali para enfim ser eu mesma. Estacionei a moto. Desci e ajeitei-me confortavelmente no que considerei um lugar privilegiado. E era.

Logo, apareceu uma figura subindo uma trilha já escondida pelo matagal que crescia. Era um pescador. Senhor e fumante. Ofegava justamente por insistir no vício enquanto praticava a subida que era íngrime em alguns pontos. Parou ali antes de transpor a barreira dos pilares que separavam o mato da calçada. Respirava profundo. Resolvi conversar. Perguntei-lhe se tinha sido proveitoso o dia. Razoável, foi sua resposta e dali surgiu uma conversa suave de fim de tarde. 

Terminou o cigarro e reclamou do vício que não conseguia largar, por isso tanta dificuldade em subir.
Jogou a bia longe. Outrora julgaria o ato. Percebi que não estava em mim essa atitude.  
Não poderia e nem deveria dizer-lhe o que fazer ou não em relação ao resto do cigarro atirado ao vento.
Também eu possuía e possuo o que outros consideram como defeitos. Falou-me sobre peixes, ondas e técnicas utilizadas por ele para pescar. O que vinha era para seu consumo e não simplesmente por esporte como tantos outros maldosamente faziam atirando o peixe nas pedras e vendo-o morrer ao sol.
Considerei ato nobre sua indignação na atitude alheia em sentir prazer na morte dolorida do peixe. Quem somos para determinar a morte de outro ser vivo?

Contou-me um caso na qual um pai levara o filho para a trilha e o ensinara a pescar, mas matando o peixe não o devolvendo ao mar. Percebi ao contar sua dor e revolta de forma que me peguei fazendo caretas semelhantes as dele no ato de contar. Quando ambos percebemos, demos risadas. Senti-me viva e verdadeira naquele momento. Senti-me um ser sendo no modo natural de ser. Algo mesmo surreal, mas real. Algo pleno de significâncias para o que realmente era o ato de viver. Enquanto isso o céu nos brindava com o espetáculo colorido e festivo anunciando o término de mais um dia em começo da noite.

Andreia Cunha











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