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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ONDE ESTÁ NOSSO PASMO ESSENCIAL?



Há pureza de sentimentos que somente são perceptíveis nos olhos de uma criança.

Neles vemos o brilho do pasmo essencial diante do antes nunca visto e da vontade do sempre algo mais compreender.

O que acontece quando crescemos que aos poucos perdemos essa capacidade? Tenho por mim que a temos adormecida ou anestesiada pelo orgulho de achar que nada mais nos surpreenderá.

Nossos sentidos se acomodam e não damos brechas para um novo enxergar sobre o até então já visto, porém não analisado com olhos curiosos de quem almeja ir ao muito além.

Contentamo-nos com o mal observado e muito mal sentido quase sempre tidos como sensações e sentimentos reais. 

Ficamos na superfície e as camadas mais profundas, na maior parte das vezes desconhecidas, não damos a oportunidade de perceber que elas existem em cada um de nós.

Na infância tudo está latente, não temos os preconceitos que aos poucos incutimos por necessidade de adequação ao mundo dos adultos repleto da arrogância de suas inúmeras razões na contenção das emoções.

Por isso, utilizei a palavra pureza como modo de expressar esse sentimento que ainda não foi contaminado com a intimidação do adulto que aos poucos sufoca o que de mais bonito uma criança pode ter: a imaginação aguçada por todos os sentidos.

Fico com o poema que até hoje mais tocou minha alma do heterônimo Alberto Caeiro na pessoa de Fernando Pessoa: O guardador de rebanhos


O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo...


Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender...


O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...


Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar...Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

                                                                  Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914


Andreia Cunha






















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