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domingo, 4 de setembro de 2011

A ETERNA-IDADE POR HARIFF TÁRIK AL BEIT



O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel.
Platão


Quero começar essa narrativa de forma bem tradicional. Só não escolhi o 'era uma vez' porque a expressão remete a ideia, hoje, na qual me sinto constituído. Nunca fomos feitos de carne e osso, mera ilusão acreditarmos nisso. Na verdade o que nos forma é o tempo. Sinto-me feito dessas micropartículas além de minutos e segundos.

Desculpem-me, já fugi do que considero o tradicional, mas em tempo retorno a linha que me predeterminei a seguir.

Meu nome é Hariff, beduíno que assumiu como profissão de vida e fé a arte de observar. Ser observador requer coragem em vida e para a vocação a qual ela te desperta. O deserto é meu caminho e também meu horizonte. Nele é que temos a noção do que é a eternidade. Fora dessas terras maravilhosas que considero ser essas areias escaldantes, o homem não enxerga com clareza: sua ganância por atrair a eternidade o faz cego e escravo das miragens.

Tenho de sorrir. Eternidade? é um conceito amplo e sujeito a diversas análises de todas as áreas do saber.
Nasci Hariff Tárik Al Beit, mas resgatando a vida pela memória, percebo que raras foram as vezes que me senti com este nome. Na maior parte do tempo diluí-me com o espaço e tempo que eventualmente ocupei. A eternidade não está nos gestos que consideramos mais significativos e sim nos pequenos aos quais tocamos a alma do outro. São estes gestos originados da mais pura fonte do tempo que nos montam e remontam dia após dia. 

O próprio amadurecer e envelhecer comprovam que não fui, não sou e igualmente não serei o mesmo dos ontens e hojes.
Por isso afirmo: sou tempo. Temia essa verdade quando comecei a percebê-la com mais profundidade. Devo essa noção às tradições milenares dos ancestrais que me deram a vida. Foi também o deserto com seu sol escaldante dos dias e temperaturas bruscamente frias das noites que despertaram o observador do exterior quanto do interior que existia em mim como vocação.

Quando de dia o sol queimava, tive de aprender a ser noite e vice-versa. Aqui o tempo cronológico descompassa do psicológico e isso para minha vivência, tornou-se fundamental. O não desperdiçar oportunidades e o desconsiderar momentos adversos quebraram as miragens que a vida árdua no deserto podem apresentar como verdades concretas e absolutas. 

Aprendi a ver não com os olhos somente. O corpo todo participa da criação de conceitos e sentidos. Caso contrário conduziria meus camelos e a mim mesmo por uma trilha errante e sem destino.

O hoje do meu hoje é mais experiente, para quem lê parece uma frase ilógica. Entretanto, percebi dessa vivência em observâncias que nada é tão lógico que mereça tanta radicalidade a ponto de me prender em jaulas de pensamentos.

Minhas tradições e observações me conduziram à liberdade dos sentires apesar do corpo enquanto substância. Nesse tempo em que existo tenho vários elementos que me formam Hariff, em breve todos eles se separarão e voltarão a suas origens. 

Quanto a alma, esta é tão livre quanto os elementos que nos compõe.

Eis aí meu conceito de eternidade.

Andreia Cunha












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