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terça-feira, 20 de setembro de 2011

O INSTINTO DE UM INSTANTE



Uma pedra, aparentemente comum, jogada de lado, esquecida numa gaveta de anos foi resgatada por crianças, os netos da Senhora Augenblick. Agora elas a rolavam de mão em mão como brincadeira.

Algo inusitado aquela pedra possuía, mas por enquanto era um segredo guardado em seu interior brilhante. Linda e hipnótica, ela simplesmente existia. Diziam outrora que ela fazia a realidade. Estranha frase e mais estranho ainda supor que era essa sua força e poder. Entretanto, essa lenda havia se perdido juntamente com o esquecimento na gaveta.

Al Zahit, garoto esperto e curioso, notou certa noite, olhando a tal pedra, algo que poderia mudar sua vida e que estava contido naquele brilho sedutor. Nunca havia visto algo tão belo e era justamente esse o convite do olho da pedra. Vozes suaves vindas do nada lhe diziam:

- “A menor partícula a qual tanto os físicos ambicionam conhecer chama-se INSTANTE. Ele é a menor fração, o indivisível do TEMPO, este que nos consome sem que verdadeiramente notemos. 

A respeito do instante: não há como retê-lo em recipientes, não há como entendê-lo senão vivendo e sentindo: nascendo e renascendo para a constante mutação do momento. O segredo é o eterno renascer pelos instantes que passamos...

... Quando recebemos a realidade – matéria-prima do tempo – é no instante que a vida age. Aquilo que o homem tanto considera como sua diferença sobre os demais seres é justamente a condição de não ser levado pelo instinto do instante...

... Mas eis o mistério: como agir sempre pelo modo racional como gostaria o homem?”

A questão proposta pelas inúmeras vozes era por demais densa e profunda para uma criança.

Al Zahit recebeu aquele lampejo de entendimento deitado na cama, observando a pedra. Viu-se, viu o tempo agindo nele. Sentiu o que tantos gostariam de sentir, embora tal realidade fosse cruel e avassaladora... Viu-se noutros tempos – passado e futuro. Diluiu-se com a pedra, como se ambos fossem a semente da verdade expressa no tempo.

Tudo parecia confuso e acima da linha da vida, pairando num infinitivo de verbos. As vozes concluíram:

... “- A consciência do tempo é a mesma do instante agindo em nós e sobre nós, Somos a invenção da invenção temporal...”

Al Zahit percebeu o tudo que podia em sua ingenuidade infantil, que nada era perante o universo a não ser um aglomerado de partículas compostas de tempo e que a seu tempo também se dissiparia e retornaria cada qual a seu lugar.

Nesse momento de reflexão, a pedra explodiu e se transformou numa fonte permanente de água em palavras. Elas eram agora seu modo de existência.

A fonte inundou-lhe, pois nascia de seu interior. Era de seu corpo-tempo o instante existencial mais mágico na qual somente poderia brilhar no entendimento de uma criança. Só ele pôde sentir a plenitude em beleza no brilho reluzente da ingenuidade.

Andreia Cunha










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