Aprendi o silêncio com os faladores,
a tolerância com os intolerantes,
a bondade com os maldosos;
e, por estranho que pareça,
sou grato a esses professores.
Pois o silêncio não tem fisionomia,
mas as palavras muitas faces...
Machado de Assis
Será que estamos nos tornando pessoas cada vez mais surdas, que aos berros pensam falar e o outro, ouvir e entender, seja na rua, nas salas de aula, ao celular, no almoço ou no jantar ou em qualquer lugar?
O que se percebe é um surto de berros em meio a ruídos como comunicação eficiente, eficaz e moderna.
Ninguém ouve, ninguém se entende e para fugir da loucura, uma parte se enclausura em fones de ouvidos como ilhas isoladas para a compreensão de si e do mundo.
Caso alguém fale, surge como resposta:
- Hã? Que foi? Não ouvi, repete.
Um incômodo que o retira do sossego de sua vida em decibéis alienantes.
Ensurdecidos ensandecidos em barulhos comprados e compridos, dormimos para a reflexão do universo interior.
Nos robotizamos falando sozinhos pelas ruas repetindo papagatoriamente o que nos falam aos ouvidos: seja música, seja notícia. Parecemos zumbis, zunindo em casulos protetores de nós mesmos.
Um pouco de silêncio se faz necessário, pois o silêncio nos humaniza. Entretanto muitos têm medo por ver nele uma prefiguração de seus terrores íntimos bem como da morte em pessoa.
É aprendendo a ouvir nosso silêncio que descobrimos quem verdadeiramente somos e o que temos como essência dentro de nós.
"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."
Clarice Lispector
Andreia Cunha
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