DO JORGI: A HISTÓRIA INTERESSANTE

A história que vou contar apesar de parecer apenas uma lendinha é pra lá de verdadeira. Caso desconfiem, tenho como provar. Para isso vou deixar o número de meu celular para que vocês fiquem à vontade para me ligar:  11-98594574. Embora ocaso não tenha ocorrido na cidade grande posso dar maiores informações do local onde o fato sucedeu aos mais curiosos, sempre aperreados por detalhes.

O negócio começou assim:

O Jorgi era um homem muito bom, desde pequenininho obediente. É claro que de vez em quando aprontava como todo moleque menino, mas a mãe sempre arranjava um corretivo. Passado o tempo o Jorgi cresceu e começou a se interessar por mulher. E não é que até nisso, o cabra era danado.

Arranjou uma logo bem linda cobiçada pela maioria. Mas ela também do Jorgi tinha se apaixonado de forma que logo que se viram sem saída e a ponto de fazer besteira, com medo de fazer filho antes da hora resolveram se casar e pôr as danadas das alianças nos dedos.

Foram felizes igual em contos de fada, só que o para sempre ficou meio que esquecido no caminho dessa vida- professora que não dá brecha pra nenhum aluno seja bom ou não tão bom. Da aula dessa Dita só se sai morto. E foi justamente o que com o Jorgi sucedeu. Com mais ou menos cinco anos de casado e com um filho muito amado, meu amigo teve uma doença bem fatal que lhe consumiu o corpo em menos de três meses. A mulher inconsolada chorava feito criança e não acreditava no infortúnio que em sua mente Deus armara.

Ela não entendia que na escola da Vida, a morte é a aprovação. Por isso, para ela, o agora em diante seria apenas um suplício, uma dor cheia de uma tal provação danada e sem fim. O moleque, com pouca idade, perguntava pelo pai e ela sem saber o que dizer falava que ele agora morava no céu e que de lá os olhava com amor e carinho.

Como a dor era maior, à medida que o tempo se distanciava do fatídico dia, meio que enlouquecida, resolveu chamar um carpinteiro-escultor e fazer um Jorgi de madeira igualzinho ao de carne e osso.

Lá foi feito o homem de madeira em tudo idêntico ao verdadeiro. A mulher idolatrava e toda noite se ajoelhava aos pés do amado que nada mais podia fazer porque da madeira ele não podia se mover. Era assim que cultuava seu amado e que um dia na presença de pouca vizinhança e parentela, fez propósito para todo o sempre.

Jamais se casaria novamente. Como Jorgi não houve, não há e nem haverá. Firmada na palavra, deixou a escultura encostada na parede. Anos se passaram, o moleque já casado mostrou pra mãe que filho quando cresce bate asas tal qualpassarinho para o mundo. E a mulher arranjou uma amiga empregada que lhe ajudava com os afazeres da casa. O Jorgi lá permanecia, meio esquecidinho e um tanto empoeirado, mas ainda como o amado da dona da casa.

Certa vez, numa terça de carnaval, um desconhecido fantasiado bate à porta cansado e com sede de tanta festança e pulação resolve pedir um copo com água e um tanto de atenção. A amiga-empregada atende e chama a patroa em sentido de obediência. E Maria, a viúva, logo de cara se encanta do festeiro mascarado que lhe bate à porta num dia de alegria.

- Mande o moço entrar, Aléia...

Desde então se apaixonaram. Noutro dia, lá veio ele sem fantasia, desmascarado e sério foi fazer o pedido esperado por Maria que agora se esquecia dos votos lá detrás.

- OO Aléia, vai fazer um café, mulher!

- Sim Senhora é pra já.

Passado um tempo lá vem um grito da cozinha em desespero da empregada:

- OO Dona Maria o gás acabou, só se for na lenha.

- Por isso não mulher, cate o Jorge, tire uma lasca e bote já essa água na brasa.

E aos poucos lá se foi o Jorgi sendo consumido como lenha até o dia do novo casamento de Maria com o mascarado fantasiado de uma terça de carnaval.

Andreia Cunha