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terça-feira, 25 de outubro de 2011

DEDETIZADORA DE ALMAS



Vocês não viram nada. Nem sequer a metade do problema. Mas à medida que a leitura for se desenrolando como arte, a verdade vai aparecendo como igualmente deveria ser na vida.

O problema era especificamente uma dona recém contratada que estava criando tumulto com seu silêncio.  Era discreta e sóbria, diferentemente dos demais funcionários que em espalhafatosas atitudes botavam pra quebrar com a antes disciplina da empresa.

Aos poucos e com a maioria em ritmo de euforia, o padrão normal era o do barulho e do estardalhaço como regra e parâmetros ideais. A tal chegou e assim que entrou em pose austera e postura dominadora, só com sua presença impôs comentários e um furdunço louco.

Não era a chefe, não era a dona e muito menos responsável por algum setor importante. Era de pequena função, mas sabia se colocar com sua presença marcante. O que havia naquele ser que causava mesmo sem palavras tantas controvérsias e fofocas?

Ela obviamente notava os olhares e os comentários de canto de boca, nunca diretos a ela, mas perceptíveis por olhares secantes e sinuosos. Ela era a curva do caminho de muita gente.

Aparentemente, trabalhava para uma empresa terceirizada e seu objetivo era o da limpeza.
Estaria fazendo não só a limpeza do recinto como também das almas que ali trabalhavam? Ela não possuía os lipídios do falar com palavras engorduradas que causavam mal estar. Passava pelas mesas sempre em agitação e bla, bla, blás. Percebia o silêncio como se todo o serpentário estivesse pronto para dar o bote na pobre criatura que por ali passava. Tinha mais medo dos escorpiões, mas não sabia distingui-los ainda.

Era massacrada todo santo dia com aquele ritual, como se no Butantã as cobras estivessem soltas e ela o alimento para alimentá-las. Muitos percebiam que ela começou a se destacar para a chefia, pois seu trabalho era exemplar. Muitas vezes, pensou abandonar tudo aquilo, pois se sentia mal com tanta hostilidade. Entretanto aquela era sua profissão.

Num determinado dia, as najas, cascavéis, sucuris e todos os tipos mais esquisitos de criaturas peçonhentas, não suportando aquela figura, começaram a brigar entre si em total desarmonia como se seu silêncio e porte fosse ensurdecedor para aqueles estranhos seres desacostumados com outro estilo de vida.

Foi um caso incomparável. Todos os bichos entranhados naqueles seres se puserem à mostra em ferocidade bestial e começaram a se consumir em luta infernal. Não restou um para contar história, só mesmo ela que verdadeiramente fora contratada para a dedetização daquela empresa empesteada de bichos da pior espécie.

Ao final, o chefe a cumprimentou e fez seu pagamento com um cheque do valor estipulado como o combinado na primeira reunião.

Andreia Cunha









Um comentário:

  1. Uma dedetizadora de almas até que seria interessante para esse mundo absurdo. Gostei da ideia!

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