Powered By Blogger

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O RISO DE RAVEL



Não preciso quebrar janelas. 
Sei como abri-las.
Maurice Ravel

Foi em um concerto que teve o primeiro surto lampejo. Era executado o bolero de Ravel por excelente orquestra a qual me recuso nomear no intuito de diluir o fato a mera ficção, embora não o seja.

No momento em que as batidas se erguiam pela primeira vez, a mulher se sentiu pisoteada por aquela marcha repetitória que mais pareciam a de centuriões romanos passando por cima de seu corpo como tapete vermelho de sangue: o seu próprio vertido pelos pisares.

A repetição constante de mais de 10 minutos foram demais para seus ouvidos sensibilizados pelas crueldades vertidas e vestidas de diferentes formas através do tempo.

Aos berros, ela suplicava que a marcha parasse. Até que alguns seguranças apareceram misturados ao público-plateia que tentava em vão acalmá-la.

Antes de ser retirada teve tempo para últimas palavras:

- Isso é demais para mim, demais pra mim... Esse bolero é um grito desgovernado que imita meus medos no seu jeito mais ordenado de ser... Aaaai...

Dos altos céus, Ravel feliz disse:

- Até que enfim alguém entendeu meu recado. Alguém entendeu...

Andreia Cunha








Nenhum comentário:

Postar um comentário