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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

GUARDE E AGUARDE



-Guarde e aguarde.

A ordem veio vertical e em tom intensamente imperativo.

- Não, não tenho de guardar minha fúria, esperar e muito menos aguardar. Com licença que quero passar e seguir meu caminho.

A do tom imperativo a impedia de seguir adiante em seu propósito. Não era afronta, a transeunte apenas queria continuar pela rua a qual estava e era importunada por alguém que se sentia a dona do pedaço.

Inúmeras pessoas passivamente se punham a esperar sentadas no chão absurdamente dispostas a obedecer ao ser que se punha em destaque como liderança.

Vestida de uniforme militar, roupa que, aliás, lhe caía muito bem pelo corpo forte e romano: ombros largos e cintura afinada com quadris simétricos à largura dos ombros. As costas? Extremamente eretas de quem se punha a ouvir muito o “barriga pra dentro, peito pra fora” durante a academia. Usava um vestido à moda Gestapo com botões grandes alinhados em dupla desde a altura do busto aos joelhos aproximadamente.

Sua pessoa impunha tanto respeito que mesmo que falasse abobrinhas seria ouvida em suas estapafúrdias considerações.

- Daqui só com o voucher devidamente preenchido e pago nos balcões de atendimento.

- Eu lá quero saber de ‘vaucher’... Meu direito se atém ao ir e vir e nada aqui indica necessidade de pagamento ou qualquer tipo de pedágio.

A proponente a enfrentar era uma garota simples no seu vestir informal e em cores basicamente neutras. Mas sua neutralidade estava somente nas cores e nas roupas. Seu ser era totalmente avesso a aceitações estúpidas de quem acha que tem poder e o assume sem esforços e medidas por conta da estupidez alheia.

Jamais se sentaria com os demais e achava sinceramente que agitar aquele povaréu era a melhor maneira de pôr aquele ser arrogante em seu devido lugar: a insignificância de quem se julga superior.

Alguns mediante a ousadia da garota começaram a perceber o quanto estavam sendo iludidos e como se acabassem de acordar de um transe hipnótico começaram a abrir as bocas em repúdio. Em menos de dez minutos aquilo se alastrou como fogo em pólvora.

Os aliados da militarista baixaram o cacete que comia solto as carnes dos insurgentes, que ainda assim não cediam às pressões. Eram pedras voantes surgidas do nada, bombas de gás em meio a barreiras humanas protegidas de escudos e armas letais. Cada qual se virava como podia, embora defendessem um direito comum: o de ir e vir sem regras estúpidas determinadas por quem se sentia acima das leis.

No meio desse tudo infernal, muito sangue, muita vida escorrida por onde o Mestre Idealismo passaria livre pelo tapete vermelho e seguiria adiante até o próximo posto onde existisse a humilhação e a altivez imperando sobre os ditos pequenos cidadãos.

Andreia Cunha











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