Powered By Blogger

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A SUTILEZA DE UM ENCONTRO



Há lugares tão tocantes que quando analisados, nos fazem transpor as barreiras físicas que residem no tempo e no espaço.

Por meio daquela viagem estava, agora, num lugar desse gênero. Tentava lembrar de onde tinha visto imagem tão semelhante.

Não havia feito tantas viagens para ter uma bagagem de recordações tão extensa. No máximo 5 a 10 minutos bem pensados poderiam solucionar a dúvida.

Mas quê? Quando a memória empaca é igual a burro ou carro atolado.

-Já sei é de...

E o nome não vem, e a língua também não colabora...

Fica uma sensação de incompetência mental e verbal. O fato é que o lugar era muito bonito embora comum.

Ao fundo, as montanhas que dias antes havia percorrido e de lá do alto via a planície que em breve estaria.

No presente, já nas planícies contemplava a grandiosidade das montanhas e se perguntava como conseguira passar por lugares tão inóspitos.

Não parava de caminhar mesmo com as pensações constantes. Podia fazer as duas ações concomitantemente.

Estava tão absorto que só foi reparar a planície em sua profundidade quando entre um pensar e outro houve um silêncio. O olhar precisava ser ato único.

Naquele micro-tempo avistou uma moradia. Parecia feita de pedras milenares, mas ainda não era possível qualquer conceito mais apurado.
O cansaço de mochilas nas costas o fazia um tanto encurvado. Era mesmo um aventureiro de marca maior (continuava a pensar).

Chegou à porta da tal casa. Não havia meio de chamar que não por palmas.

Um homem de estatura avantajada e aparência de escultura do tempo o recepcionou. Convidou-o a entrar sem falar, só gestos.

Assentiu embora momentaneamente um tanto de medo lhe subiu dos pés à cabeça.

Notou que na sala móveis rústicos ornamentavam o recinto e mais adiante uma mesa de pedra continha peças em madeira como pratos e talheres.

- Quer se sentar? - convidou o anfitrião em latim.
O visitante se surpreendeu pois o latim era língua morta. Teria que resgatar o pouco estudo das épocas escolares para se comunicar com aquele novo amigo.

- Agradecido - respondeu.
Ambos se olharam por um tempo sem dizerem absolutamente nada um ao outro. Entretanto, não havia incômodo nisso.

Tinham a sensação de reencontro, de um saber do outro e da visita não programada.

- Sente-se cansado?

- Sim bastante. Tenho percorrido vales e montanhas dessa região para travar conhecimentos da nova terra a qual estou morando.

- Isso é bom. Muito bom. Vejo que guarda em ti a essência do conhecimento e a vontade humana do desbravamento.

- É verdade, nunca tinha pensado nisso pela vertente filosófica. Talvez por isso me considere um aventureiro.

Risos de ambos e mais um breve silêncio na qual se olharam novamente.

O rapaz viu um livro imenso que estava numa prateleira também de pedra que saía da parede.
Chamou-lhe logo a atenção. Admirava os livros. A maior parte do que sabia por meio da educação com os pais, na escola e da vida em si sugara dos livros - grandes mestres por excelência.

- Posso?

- Claro. Fique à vontade. Irei a cozinha enquanto isso.

Pegou, retornou ao mesmo lugar e começou a folhear. Eram letras obscuras, mais pareciam desenhos e reluziam apesar dos idos amarelados e ásperos das páginas.

Embora não entendesse, imaginava se tratar de algo muito especial para aquele homem a qual acabara de tomar ciência de sua existência.
Folheava já pela metade quando o de alta estatura voltou.

- Você se importa de ver um velho comer? Não se sentirá incomodado com este ato?

- Não de jeito algum. Vou me sentir honrado pelo convite.

- Obviamente você está convidado. Esqueci-me do principal.

- Não se culpe.

Ambos sentaram-se a mesa como velhos conhecidos. O mais novo disse:

- Então já me esperava?

- Oh, claro... De tempos em tempos, essas visitas acontecem. E amanhã mesmo estarás em tua casa.
Não houve nenhum estranhamento nessa troca de palavras. Tudo parecia normal.

Deliciavam-se com a sopa e os nacos de pão cortados com a mão.

- Sabe, moro aqui há tempos, mas raríssimos são os que param como você e se assentam para uma conversa. Minha idade já me permite dizer que guardo a essência dos anos. E todos são iguais, todos são vaidade, todos são de buscas, conflitos e esperanças. E o que fica disso tudo são lembranças tanto as coletivas como as pessoais. Mais as segundas, pois cada um tem as suas. Lembro-me ainda quando construí essa casa e formei família.

- Um dia terei a minha, assim espero...

- Claro que terás. Tens a virtude e a vontade. Isso basta.

Não sem tempo estavam se despedindo e cada qual tomando seu rumo.

O da mochila de experiências, sua casa
O da casa, o seu verdadeiro lar.


Andreia Cunha






Nenhum comentário:

Postar um comentário