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quarta-feira, 20 de julho de 2011

ENTRE O SER QUE SOMOS E O QUE SE SUPÕEM QUE TEMOS.




Existe uma guerra ferrenha de foices entre duas palavras que no mundo moderno fazem as cabeças das pessoas de modo imperceptível em comportamentos e atitudes.
Em relação ao olhar do outro, somos considerados por quem de fato somos ou somos considerados pelo que realmente temos ou supõem-se ter.
Há uma distorção de espelhos por conta dos interesses individuais de cada um. “Se fulano tem o que preciso, independente de seu caráter, vou tentar me aproximar fazendo-me de amigo para retirar o máximo que puder dele” ou “Não importa de onde venha sua grana, o que importa é que ele não faça o mesmo que fez aos outros comigo”. E assim por diante.
O pior é que esses pensamentos geralmente estão enfronhados no inconsciente. Por isso, como citei no início do texto a palavra imperceptível como atitudes impensadas. Entra um tanto do que chamam de esperteza, a mesma que sobrevive nas fábulas ligadas a figura de lobos e raposas, porém de modo não planejado ou arquitetado. Será que se pode considerar de atitude ingênua por não passar pelo crivo consciente do juízo de valores?
Desse modo de ver, creio que o sistema capitalista em sua vertente mais selvagem, o neoliberalismo, desperta no ser humano o que de mais cruel pode ter nele próprio. Há o egoísmo presente no conceito de posse e de como o outro é um coitado por não ter o que possuo e desfruto em demasia. Isso faz com que se pense que há no outro uma incapacidade em se ajeitar na vida, por não ter aproveitado o rio de chances que passou frente a sua porta. Quando nem sempre as situações são assim.
Tem-se a tendência de ver o mundo pelo viés da superioridade de uns e da inferioridade de outros. Uns poucos vitoriosos, competentes e ascendentes e uma imensa massa de fracassados.
Ultimamente, com as ditas crises mundiais de tempos em tempos criadas propositalmente para conter o fluxo dos mercados, somos os maiores prejudicados, pois os donos do capital em pouco ou quase nada sofrerão as conseqüências dos “menos favorecidos”. Afinal, no efeito cascata quem tem menos pagará as contas dos que tem mais, que se possível arrancarão as almas até das mães para se manterem nos níveis semelhantes aos anteriores.
Nessa filosofia do poder como domínio, nada mais óbvio do que moldar pensamentos em fôrmas estereotipadas. A educação para a maioria é debilitante, visa somente manter as peças que girarão as roldanas do sistema. Os que têm mais chances terão o filé mignon de tudo. Sobram-nos do frango as asas e o pescoço para serem roídos e quando não satisfeitos, os ossos.
Lembro-me agora de um texto de Mário Quintana intitulado “Da influência dos Espelhos”. Nele havia um paradigma entre o que somos e o que temos comparando aos reflexos ilusórios dos espelhos que deformam a visão em figuras engraçadas – técnica dita pelo autor como meio de chamar a freguesia para determinados comércios. Penso que estamos numa dessas salas de parque de diversões e quando nos olhamos vemos só distorções como verdades. Nisso somos anestesiados para acreditar que tais imagens são verdades absolutas e não modificarmos certos padrões que nos escravizam nesse mundinho de ilusões.
Será que somos os incautos leitores que mais ingênuos do que as crianças acreditam nessa despersonalização do segundo eu devido à invisibilidade de nossas almas e barganhamos o ser que somos pelo ter que nos impõe como ideal?
Nisso Mário Quintana continua atualíssimo: O assunto continua sendo um magnífico assunto para teses de mestrado, doutorados nas diversas áreas do saber.

ANDREIA CUNHA








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