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terça-feira, 5 de julho de 2011

SONHO DE AVIADOR

 

 

SONHO DE AVIADOR


Era já homem feito, mas adorava ainda as coisas de menino...Claro que tudo em sua hora certa... Formou-se aviador e pilotava com destreza aviões e helicópteros, sua paixão... Quando criança, via-os em suas mãos e imaginava-se lá dentro fazendo suas peripécias no ar... O ar dava-lhe a sensação de liberdade...A liberdade para as coisas que muitos julgavam como futilidades...Mas aquelas “futilidades” essenciais que mantém um homem de pé por toda a sua vida...Não era à toa que quando estava com seu filho, adorava brincar com este de dar formas às nuvens...”Olha, filho... Logo ali...Vê? ali mais pra cima...é um carneirinho fofo... Borrego, como dizia teu avô...”

“El cielo sta emborregado”.
Quen lo desemborregará?

Lo desemborregador que lo desemborregue

Un buon desemborregador será...”.

Era um trava língua espanhol dito pelo pai e que agora passava por meio do filho para o neto... Nesses momentos, o pai já não era mais o aviador...Embora sua paixão pelos ares e pelas coisas de criança sempre estivessem presentes... Quantas vezes empinou pipa com o filho como um moleque crescido em suas horas livres? Incontáveis momentos de prazer e a sensação de realmente viver... Aproveitava-os como únicos e, na verdade eram únicos, inigualáveis...Porém poucos...

Naquela semana passaria por uma série de treinamentos de novos pilotos e ele seria o instrutor... Homem experiente que era, por isso a responsabilidade em treinar novatos... Afinal, adorava passar seus conhecimentos pelos ares... Porém, sentia-se tenso em ter que repetir para cada novo aluno o que antes já tinha dito... Possuía a vontade de novidades de conhecimentos e não a mesmice de repetições lorísticas...Currupaqueando a ladainha para cada novato que aparecia... Mas, enfim, era seu trabalho... Naquela quarta-feira, acordou resplandecente, um ar jovial... A mulher desconfiara de tanta robustez e jovialidade para um meio de semana... O que será? Surpresas ou simplesmente bom-humor? Deixe o homem em paz! Pensou por um instante na tentativa de acalmar os ânimos...Pois, sentia uma sensação de dor antecipada... Seria mais uma jornada de trabalho árdua para ela naquele dia, principalmente depois do ocorrido de dias atrás...Estava com a pulga atrás da orelha...Talvez fosse essa a sua inquietação...
Saíram...E ele ainda brincou “cada macaco no seu galho... desde que este no sustente...” referia-se ao trabalho de cada um... Deu-lhe um sorriso e desta vez acompanhou-a com os olhos até vê-la sumindo pela rua...

A mesmice o esperava, porém estava bem disposto...Queria alçar novos vôos...Mesmo sabendo que era uma semana cansativa...
Na hora do almoço estava com alunos ainda e adiaria o comer para mais tarde...Queria alçar mais um vôo... O prazer o tomara...
Já nas alturas explicava alguns truques de manobras básicas, quando viu ao longe várias pipas no ar...Adorava vê-las balançando ao sabor de um dia ensolarado com vento...Inebriou-se com aquela dança...Até que uma delas cortou a linha da mais graciosa
 que pairava bailante no ar... Esqueceu-se da aula e do novato e foi em direção a pipa que bamboleava numa caída enquanto tantos outros moleques deveriam estar correndo para pegá-la como prêmio... Imaginou o garoto que a perdera e uma revoltazinha infantil subiu-lhe a cabeça...

 Decidiu em questão de segundos como flashs de pensamento que pegaria a tal pipa e a devolveria ao garoto que a perdera pelo egoísmo de algum outro... Alcançou com o helicóptero a pipa e tentava inclinar seus braços para cata-la...Mas estava difícil aquela louca empreitada de moleque... Esticou-se o máximo que pôde e como num segundo acabou por lançar-se para fora do peixe voador... A surpresa maior ainda estava por vir...Pois em vez de cair, seguindo o que manda a lei da gravidade...O aviador levitou e como balão flutuante saiu voando desemborregando as nuvens e se transformando em uma delas para nunca mais ser visto por nenhum mortal... Ninguém acreditara que a lei da gravidade pudera ter suas exceções e deixar de cumprir seu papel descoberto por Newton e sua maçã caída de uma macieira... Enfim, melhor não questionar...Leis são leis, mesmo em suas exceções!


Andreia Cunha

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