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segunda-feira, 11 de julho de 2011

ANGÚSTIA DE PERSONAGEM




ANGÚSTIA DE PERSONAGEM

Lembro-me ainda dos dias felizes, de minha vidinha ingênua antes de te conhecer. É, você mesmo que me lê. Era tranqüilo, sereno na plenitude da minha infância sem ter noção da dor do amor em suas concretizações e/ou não realizações. Passo agora a me contorcer pelo contraditório que é sentir tanto dor quanto prazer ao mesmo tempo. Vejo-me acabado no decorrer das páginas que se viram desde o momento na qual tu tiveste contato comigo.

Estava lá, calmo no meu canto de página em meio a letras e pontuações quando dúvidas o trouxeram até mim. Não creio que tenhas pensado que em mim encontrarias respostas prontas? Lamento tudo ter acontecido dessa forma. Não queria ter sido desnudado, invadido como fui ao me abrires. Sua ousadia ascendeu meus instintos, percebi-me com corpo, sexo e desejos. Mal sabia o que era aquilo tudo que efervescia e por isso a inabilidade em como proceder diante do novo que se afigurava em meu ser.

Fui manuseado, induzido e seduzido pelas tentações que a cada momento eram escritas a meu respeito e me inebriavam os sentidos.
Você somente me lia, mas me fazia percorrer os caminhos antes já seguidos. Era novamente desafiado a desbravar e desmatar o que de selvagem já brotava de minhas profundezas: a floresta sombria do esquecimento que me habita nas horas em que estou fechado.
Quando eu ria, tu rias, quando eu chorava, tu, também. Isso foi crucial, pois eu era adentrado e igualmente eu te adentrava nessa mistura de sensações e corpos que desejavam se encaixar como peças de brinquedo, ou de um quebra-cabeças. Formávamos um todo que se fecha nas repetições de intensidade e de movimentos.
Deixei de ser personagem abrigado num livro. E agora sou incógnita por conta de seu egocentrismo em ‘me unir-te a ti’. Busco as chaves que talvez possam abrir as portas para meu retorno de paz e sossego
Quero que tu me leves a minha velha floresta, às profundezas de onde vivia e não deveria jamais ter saído. Sou medo sendo consumido no ondular do chão na qual tento e teimo em dar o próximo passo.

O pior é que preciso de minhas mãos que agora são as suas para fechares o livro e descansar a quietude que tanto almejo. Já não mais ‘sei-o’ que sou.

Andreia Cunha








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