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sábado, 12 de maio de 2012

A PEÇA PREGANDO PEÇA





cena teimava em se repetir infinitamente em sua cabeça. E como era chato não ter como pará-la para deixá-la lá no passado esmaecendo em seu decurso.

Enquanto isso, aquilo tudo parecia ter sido colado com o mais potente adesivo mental em seu cérebro cansado.

O homem subia para a forca, lá se dependuraria para representar a morte de um suicida. Não era a primeira vez que a encenava naquele ano e em anos anteriores. Já havia superado o medo. No entanto a vida prega peças assim como as peças as quais os homens tentam encená-las dia após dia, tempos após tempos nos diversos lugares como cenários em suas respectivas épocas.

Uma corda a pedido do ator fora colocada para esconder os aparatos figurativos e dar maior realidade à cena. A corda foi dada e a mesma o traiu. Assim como Jesus fora traído por seu suposto amigo que lhe dera um beijo – ato sagrado e santo com o nome de ósculo.

A corda lhe dera o beijo fatal, suspirara em seus ouvidos enquanto o ar lhe faltava nos pulmões. A própria dizia: “eis a realidade a qual tanto pediste, eu sou ela enroscada em seu pescoço, tal como a serpente iludibriando o homem em seus quereres e poderes”.

Não houve tempo para percepções aprofundadas dos colegas e do público de que algo errado acontecia no ato.

A corda do enforcamento posta a pedido do ator pregou-lhe uma peça mais que a própria peça.

Andreia Cunha




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