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terça-feira, 22 de maio de 2012

NA CARTEIRA





Seu maior tesouro estava guardado na carteira e era assim que todos os dias seguia sua rotina de ida ao trabalho. Antes mesmo de sair conferia se tudo estava lá como no dia anterior.

Aos olhos alheios poderia parecer um certo toque, mas sua vida já o havia conduzido por caminhos  aos quais seu melhor modo de agir era esse, hoje, por ele estipulado. Não morreria caso não fizesse o ato como de costume, mas algo lhe faltaria como uma peça de roupa essencial.

As mesmas horas, a tomada de ônibus e depois o metrô até a décima terceira estação onde desceria e caminharia umas cinco quadras até chegar ao local de trabalho. Lá mesmo, voltava a olhar o tesouro bem guardado na carteira, antes de se pôr aos afazeres do dia.

Entre burocracias e cobranças, a realidade se seguia morna tal qual seu almoço: uma marmita com arroz e feijão com um suco preparado num copo de requeijão. O novo não lhe pertencia, não batia a sua porta.

Por isso, o se ater à carteira como vida no olhar constante do que ali guardava. Após mais cinco minutos de descanso, o retorno ao trabalho até a hora derradeira de voltar para casa.
O cansaço era seu companheiro e muitos tanto no metrô quanto no ônibus eram os  que compartilhavam da mesma situação.

Não via os filhos retornarem e, quando ele chegava, as crianças já estavam dormindo. A esposa o recebia igualmente cansada por sua lida que também não era fácil por ser dupla, às vezes tripla ou quádrupla.

O tempo era para o jantar e ainda de estômago cheio tomar um banho e dormir. Não sem antes olhar a carteira onde residem seus filhos despertos e sua esposa feliz num sorriso de passeio de fim de semana ao zoo.

Andreia Cunha






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