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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O SURTO DA DONA PACIÊNCIA



A dona Paciência cansou de ser paciente. Toda vez que ouvia algo que lhe ferisse a dignidade recorria a senhora dona Calma que lhe reconduzia ao estado de seu nome. Quantas vezes aplacou as Iras e os Ódios em desenfreadas falarias.

Isso não ocorreu por anos, décadas ou séculos. Trata-se aqui de milênios infindos na qual a Paciência suportante e aflita conseguia restabelecer seu estado original pacientemente com a ajuda de suas conselheiras.

Entretanto, após tantas lambadas, tangos, mambos e dancinhas na boquinha da garrafa dentre outros gêneros, a senhora nesse conto referida hoje não consegue mais voltar a seu estado zen.

Sofre sérias torturas da modernidade inclusive pânico e agorafobia. Tem em si um kit psiquiátrico digno de muitos hipocondríacos de plantão. Diria até de dar inveja e olha que isso não é lá impossível, pois há loucos para tudo.

Quando a Paciência surta sai de perto, sai de baixo porque a pobre desconta no primeiro que aparece. Outro dia foi com a dona Fé e sua fiel amiga Esperança. Ambas vieram lhe fazer uma visitinha, mas creio que se arrependeram.

Dona Paciência as recebeu muito bem, servui-lhes os melhores de seus petiscos. Porém quando o surto de dona Fé embrenhou para o fanatismo e a Esperança em tons de verde limão seguiu seu curso psicótico, dona paciência mostrou suas garras.

Mandou-as para fora a base de pontapés pois queriam à força convencê-la de suas convicções de vida: sejam estas religiosas, da política econômica, dos valores do ser humano e outras coisitas mais que o médico lhe proibiu de tomar partido.

Mediante, todos esses cuidados, Dona Paciência hoje vive alterada ou fortemente sedada para se manter firme em seus princípios. Talvez, por isso, hoje tantos desconheçam o sentido pleno de tais palavras tão em desuso. Diria até obsoletas.

Andreia Cunha






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