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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

MEU NOME É CHRISTY



Meu nome é Christy. Nasci em uma cidade antiga rodeada por seus mistérios literários de histórias de suspense e terror e, apesar de estar agora na condição de personagem desse conto que vai surgindo das mãos ágeis de quem digita no computador, fui real em toda a extensão carnal na qual todo e qualquer ser humano possui quando se vive em pele e osso.

Tentarei ser breve em recontar minha vida. Creio que a poucos ela interesse, entretanto esse desabafo se faz necessário talvez para uma tentativa de descanso dessa vil e pobre alma na qual me transformei.

Minha infância foi feliz, cercada pela natureza e por pais amorosos apesar de distantes devido à intensa vida social de quem assume compromissos pelo status que carrega. Cresci cercada pelos serviçais que me acolhiam e mimavam.

Com o decorrer do tempo, tornei-me como qualquer adolescente uma flor ansiosa pelo seu desabrochar como momento pleno de vida em ebulição. Fui cortejada por inúmeros rapazes e a um me deixei encantar por toda sua beleza. 

A mim parecia um anjo. Feições finas, educação refinada tanto quanto a minha e carinhoso como toda menina sonha.
Enamoramo-nos. Nossos pais se agradavam dessa união, tanto que a corte durou pouco e o casamento foi algo fugaz. 

A partir daí meu universo começou a despencar e o suposto céu que acima de mim me enchia de alegria e regozijo pesou-me mais que ombros fortes e viris pudessem sustentar.

A praga denominava-se ciúmes. Casei-me com ele personificado. Em público, a gentileza em pessoa. Nos interiores, o horror das cobranças e dos cumprimentos dos deveres matrimoniais nem que fosse à força.

Já não sentia mais amor. Aliás, nem sabia mais quem eu era. Transformei-me em vida num zumbi. Os mais próximos percebiam minha beleza murchando, mas achavam se tratar dos  caprichos ainda da lua de mel.
Mediante toda essa situação, vivia como uma prisioneira em minha própria casa. 

Não podia falar, era vigiada constantemente mesmo com a visita permanente de mamãe. As ameaças eram reais mais que meu próprio medo. Sua transfiguração em nossa intimidade era diabólica.

Meus sonhos, todos engaiolados, sufocavam-me até rever Andrew que sempre me jurou amor eterno apesar de minha preferência tola por meu atual marido. Minha carência era tão grande e ter carinho como sempre imaginei ter resgataram uma pureza que fazia minhas carnes tremerem só de imaginar senti-lo em seu toque.

Para encontrá-lo era uma verdadeira tortura, porém nessa época meu marido já estava envolvido com sua verdadeira sexualidade reprimida por preconceitos e afins, apesar de manter-me sob suas rédeas firmes. 

Os encontros com Andrew eram suaves, repletos de luz e os mais belos sentimentos.Doía-me ter de voltar para a clausura e ainda assim ser procurada e tocada no corpo pela fera irreconhecível que junto a mim toda noite se deitava. 

Numa dessas noites, sua desconfiança já aguçada, pois o amor verdadeiro não consegue se camuflar, tive meu fim corporal e humano.

Não me aterei a detalhes, meu corpo ainda ressente, pois é ainda nele que me ponho viva para manter meus encontros com Andrew. Sou criatura que se atrelou ao lado negro da força para continuar sentindo o amor a qual me foi privado em toda minha plenitude e frescor da mocidade.

Ele? Aceitou e é por isso que meu corpo de certa maneira se move entre os carnais.

Não entendo como pude ser transformada nesse ser se por todo o tempo em que vivi fui interligada ao lado religioso e à prática do Bem por excelência. 

Não consigo me desvencilhar tanto do amor quanto do ódio em ter me deixado conduzir por aparências. Choram por mim, meus pais. Choro por mim, eu mesma. 

Choro por Andrew e sou seduzida pelas carnes que teimam em se desgrudar de meu corpo.

A morte? Eu a anseio tanto quanto o toque amoroso de meu amado. Entretanto, não sei o caminho para realmente ressignificá-la sem deixar todo o encanto do amor que senti após tanta crueldade.

A vós, que leem essas mal fadadas linhas, não praguejem a morte. Ela não é má e nem boa. Apenas uma necessidade da carne que precisa ser desatrelada em todos os seus componentes reciclando-se nos círculos eternos do retorno...

Andreia Cunha




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