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sábado, 25 de fevereiro de 2012

INFÂNCIA NUA



O menino insistentemente perguntava a mãe:

- Por que tenho que usar isso? Não quero...

- Menino, deixa de frescura que isso não é coisa de moleque! Vai usar e está acabado...

A mãe persistia na vestimenta da camiseta e do calçado como proteção do mundo.

- Não quero, não quero e Não Quero.

-Vou te bater.

- Pois bata.

- Não só vou te bater como vou te vestir...

Desde pequeno era tinhoso e deixava transparecer personalidade forte. A mãe o puxou estabanadamente em sua ira com intenções protetoras. O menino se contorcia feito uma lagarta. Punha um braço à força e enquanto a mãe tentava o outro, o primeiro já estava novamente despido.

- Mãe, isso me incomoda.

O menino tentava argumentar. O pai não estava. Caso contrário nem faria manhas.
A mãe, cansada de tanto esforço inútil, acaba cedendo à conversa que o menino quer.

- Diga logo, que não to com paciência...

- Mãe, esse monte de roupas me incomoda. Me sinto um boneco igualzinho `aqueles das vitrines das lojas. No jogo com os colegas, não consigo me mexer. Tudo fica sem graça e eu não sou eu. Não sei explicar... Mas esse negócio de camiseta, tênis, roupa não é comigo... Minha pele me basta é ela que me cobre. Me sinto vestido com ela...

- Ai, você sempre com suas histórias. Que negócio é esse de “a pele me basta”. Com quem você andou falando. Isso não é coisa de sua cabeça. Seu terrível... Olha, me escuta: você um dia terá que aprender a usar tudo isso e muito mais. Se não for por mim, que sou sua mãe e quero o seu bem, será pela vida, e ela, talvez, não seja tão boazinha quanto eu...

- Mas mãnhe eu não gosto... Nem sei se vou crescer! (faz uma carinha atrevida).

- Moleque, deixa de onda. Pela ordem natural das coisas, você vai viver muito. Ainda mais safado e falante do jeito que é vai dar é um belo de um político!

- Talvez mãe, mas por em enquanto quero ficar assim. Vai... deixa... Vou só jogar bola com os meninos. Vai?

- Tá bom, tá bom, mas isso é porque estou cansada e ainda tenho muita coisa para fazer. Chato.

Agora o menino se dirigia contente para a porta com a bola. Ao longe, a mãe ainda retrucava...

- Só não me venha chorando caso chute o chão e venha com a pele do dedão pendurada ou o peito ralado. Te boto de castigo.

As últimas palavras “te boto de castigo” ele nem ouviu. Teria a vida inteira para encarar o castigo de se camuflar com camisas, gravatas, etc e tal.

Agora e só por agora a pele lhe bastava e era isso o que realmente importava.

Andreia Cunha





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