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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

QUESTÃO DE TEMPO



Era um não sei o quê, entretanto tinha convicção de que sua extensão não se encerrava com sua pele. Por falar em pele, quando tocava o que era a sua, sentia algo áspero que chegava a machucar-lhe as mãos.

Estava há muito naquele recinto pouco iluminado, não tinha, por isso, a noção exata de suas formas e a dos derredores. Havia sido anestesiado e agora voltava aos sentidos e às sensações de si e do ambiente.

Podia andar, mas os caminhos eram limítrofes e por vezes sinuosos. Se fosse um labirinto diria que este formava algo ainda indistinguível.

- Ah, mas haveria de... Se haveria!

Pensava dessa forma, desafiando-se para encontrar a saída do algo com forma ainda disforme que mal sabia como tinha parado ali. A memória não o ajudava. Talvez fosse a caça de homens com armas mais potentes, e ele quase um selvagem seria atração para futuras exibições circenses.

Nem sabia o porquê daquela desconfiança, porém suas suposições bem que podiam ser verdadeiras. 
A clausura seria um meio de bestializá-lo para ser ridicularizado em espetáculos em troca de dinheiro.

Ao conjecturar tal tendência, um gosto ácido subiu-lhe até a garganta e causou-lhe desorientação. Julgou ser medo. O meio de sair dali seria percorrer todos os caminhos e a chave da porta de saída descobrir que forma aquele lugar possuía.

Ao mesmo tempo em que tudo era vago, sabia por intuição o que deveria ser feito. E isso lhe causava uma estranheza inexplicável, pois sentia que vivia aquilo pela primeira vez.

- Estaria sendo alvo do destino que por brincadeiras tomava sua memória e a ligava e desligava quando bem entendia?

Em suas pensações percorria o ambiente. Notou que seu melhor amigo era o seu pensamento, visto que não havia nada além dele mesmo naquele infinito finito por paredes e sua própria pele. Nas idas e vindas das supostas limitações percebia que parecia caminhar um corpo desenhado no chão que o sustentava.

Adiante um clarão. Uma tocha. Para chegar até ela teria de dar passadas firmes e certeiras, pois atrás de si agora, as paredes se fechavam impedindo o retorno. Seus questionamentos. Eles eram avançados e o jogo parecia ter mudado de fase – uma mais adiantada.

- Como assim jogo?

Ele não havia aceitado nenhum desafio. Não dependia dele a aceitação para estar ali sendo participante? Quem maior o controlava a sua revelia?

No desespero corria e não mais andava. Não podia errar e se errasse teria de ser ardiloso para não ser encurralado. Perdeu a tocha. Um breu se assomou. Não escaparia dessa vez. Ouviu vozes aparentemente conhecidas.

Outra luz ressurgiu. Sorte a dele ter dado de cara com ela, pois em si um fio de laser o guiaria tal como Teseu no labirinto de Creta. Seria ele o Minotauro ou a criatura que lutava contra o destino de ser devorado?

Uma montanha se agigantou e ao percorrê-la por longo tempo sem noção exata de tempo, ao atingir determinada altura, percebeu que as formas do lugar eram idênticas as de um homem de braços abertos. Pela posição, só poderia estar agora no pescoço que tentava se erguer tal como a montanha que havia galgado.

Ele se sentia o próprio homem de tijolo e paredes que deitado no chão tentava se erguer. A cabeça era um vulcão fumegante a qual teria de superar para sair.

Já mais aliviado em ter a noção do que se era, agora seria fácil superar as dificuldades colocadas no caminho. Sair dali seria uma questão de tempo.

Aliás, na vida tudo é uma questão de tempo.

Andreia Cunha








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