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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

COLÍRIO DELÍRIO



Uma imensa página branca se abriu para mim. Não sabia o que fazer com ela. Havia muitas idéias, um passado repleto de histórias e vida percorrida. Porém, tudo vinha ao mesmo tempo se delineava num emaranhado de novelo. 

Reorganização seria a palavra para o momento. 

Nisso o pensamento foi mais forte: desde quando a vida era por si só organizada? Teria de organizar minha vida para escrever as idéias que apareciam? Não havia necessidade de cronologias exteriores ou até mesmo interiores. Se estava sentindo essa experiência com certeza não era a única... Outros partilhariam comigo da mesma sensação.

A calma então abaixou ao nível da ansiedade da folha branca. Na verdade, não estava mais em branco como no início. Isso já era um alívio. Todo o percurso da minha escrita era o meu próprio. O medo se afigurava como um meio de adiar o que viria. 

Tentava sentir o sangue olhando as unhas roídas e sem mais tocos de onde tirar.  As mãos pairavam no teclado enquanto o pensar se fundia num desejo de cama, cansaço e sono depois de almoço. E a vida corria nos toques por minuto consumida, igualmente, pelo tempo em segundos. 

Estava me ressignificando, pois era o momento para isso: final de ano, final de ciclo. Queria e ao mesmo tempo não. Achava que o ano anterior tinha causado maiores impactos pelo novo que se afigurava – retorno ao trabalho. Faltava-me esse novo para o ano vindouro. A perspectiva de uma mesmice angustiava. Queria e precisava viajar. Faltava o papel detentor de poder para me proporcionar um descanso longe da civilização. 

Dormir era um alento, lá viajava para onde queria sem necessitar de recursos materiais capitalistas. Era um sono entre morte e vida exalado nas inspirações e expirações. Tudo se embaralhava e um cansaço detonava meu ser que tombava como um leão anestesiado para ser analisado por veterinários. 

O remédio era o anestésico e eu a fera lutante contra a queda de esquecimentos provisórios. Os olhos pesavam, mas as mãos ainda lutavam contra tudo isso que se afigurava pelos efeitos colaterais ... Pausa. Lidas e relidas... Náusea e confusão mental, giro. Lentidão de idéias e peso nos braços, corpo sem forças e mente vazia-cheia... Tempo tombo cama vazia retumbante no quanto quero cair. Dormir.

Assim defino minha escrita: um delírio vital uma busca de significados e uma fuga passional.

 Não consigo mais viver sem as letras no papel, a palavra inicial quer vir à tona. 

Busco-a incessantemente desejando dar-me significado. E nisso tentando ajudar os que também precisam dessa fonte para beber. Quero ser uma fonte e proporcionar a outros tantos a mesma fonte que é possível brotar de nós em nós mesmos. 

Se isso é delírio vivo porque deliro. 

- Ah, encontrei o colírio!

Andreia Cunha











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