Powered By Blogger

sábado, 19 de janeiro de 2013

PER FEIÇÃO




- 'O doce mistério da vida nem sempre parece doce quando apreciado tantas e tantas vezes. Porém, querendo ou não é dessa experiência que o paladar é aguçado. Veja o caso dos degustadores de café e de vinho.
De algo teremos enfim de ser peritos, temos de nos degustar para saber de que somos feitos e qual o teor dessas substâncias e essências. Ninguém passa pela vida sem ter de se provar. Alguns com mais maestria outros com menos talvez.
Nessa viagem adensada com ingredientes de dor e prazer há a transformação do que,a princípio único e sozinho não se é, junto com o todo vir a ser. Passa-se de mero açúcar, a massa que tomará forma com o que aos anteriores se unirá'.

O mestre conhecia bem os segredos milenares da alquimia culinária e com ela explicava os segredos não só de sua arte mas também do que considerava vida. Seu amor pela gastronomia ultrapassava o mero praticar corriqueiro. Via em cada prato a beleza de uma metamorfose como criação divina.

-'O verdadeiro trabalho é aquele que te faz se sentir um deus (ou pelo menos semideus) perante a imperiosidade da total e divina criação do mundo em plenitude'.

Suas aulas eram verdadeiros louvores e com isso podia realmente dizer-se um vencedor. Quantos não desfrutavam desse poder de decisão devido às intempéries da própria jornada. Ao se pegar pensando nisso, uma contradição vaga o iluminava: não que fosse superior, mas gostaria muito de ver menos diferenças entre seus semelhantes.

Talvez tivesse sido agraciado embora preferisse não pensar assim por achar arrogância. Provavelmente a tinha e reconhecia esses momentos justamente nessas contradições mentais. Ao menos, a reconhecia. Percebia também que nesses momentos construía querendo ou não uma massa com todos os sentimentos como ingredientes.

Era com os sentires na cabeça que deveria trabalhar para os provares alheios. Ele, semideus, deveria trazer à realidade nova gostosura a ser apreciada. Parecia insano seu pensar por isso por inúmeras tentativas a massa desandava e novamente em ciclos deveria recomeçar a receita até chegar ao ponto ideal do não fracasso.

Na cozinha um sucesso, na mente a eterna tentativa e os medos de não errar seja na falta ou no excesso. Afinal o resultado dessa nova tentativa tinha já até um nome: PER FEIÇÃO.

andreiACunha





Nenhum comentário:

Postar um comentário