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sábado, 26 de janeiro de 2013

NOVA MENTE



  
Não tenho receios. Não, tenho receios.

Não tenho, receios me assustam. No entanto, estou inundada deles. Semeada de suas fontes originais. Escaldei-me em seu líquido e deles o medo se fez. Mais que receios, filhos, o pai, medo, se alia a paúra e nos deixa sem chão perante o caminhar lento que se tem a seguir.

Nada novo, nada velho e, ao mesmo tempo, tudo novo e velho adensado na indefinição da visão que prefigura o vazio. Os filhos vêm primeiro e remontam o pai e a mãe. Não faz sentido essa busca insana, delirante do ser que não se sabe mais.

Cada ato criador e criativo é também  dolorido como fardo carregado em ombros famintos. Nasce-se velho e morre-se novo sem um colo que o acolha e ventre que o aconchegue. O que é natural acaba sendo revertido nas areias desse tempo que retrocede em vez de se alongar no infinito que se demonstra pela frente.

Frente e costas são as mesmas coisas. Tanto faz o passado quanto o futuro quando o vazio é escuro. Não se faz distinção e essa indefinição ao mesmo tempo em que se faz boa no sentido do não julgar traz consigo igualmente a sensação de regredir.

Regressão, retrocesso... Quantas vezes se faz importante regredir: resgatar o passado para se entender o presente no futuro que pode ser de vitórias e conquistas? Retroceder é que parece negativo, viver no e do passado. Será que me engano nas palavras e patino na maionese de domingo servida à mesa com a típica macarronada e a carne assada recheada?

Faço considerações inúteis e vagas como o que sou perante meu espelho interior? A comida um gosto de manutenção das tradições, gosto de passado. Sou-me toda isso? Paladar passado sonhando o futuro que não vem por negligência em lidar com meus resquícios de memória?

‘Não me sei ainda me lidar’. Mal sei falar! O ego vem como figos de sobremesa após o almoçar típico. Degusto-os arrancando-lhes a pele, deixando-os vivos com as sementes expostas e essa é a polpa mais saborosa da fruta.

Como-os com tanta vontade que sinto a dor do figo, da figueira produzindo aquele fruto com sua vida em movimento embora presa às raízes que a fizeram progredir. Como se faz para ser árvore ambulante? Como se faz para dar fruto sem estar parado ao eterno lugar que te plantaram?

Não sou, por isso, árvore? Ou apenas planta insana no desejo de sair para esta viagem intra e extracorpórea que vem a ser o não mais ser no seu devir em devaneio? Será que sou fruto e talvez por isso sinta a dor do figo descascado por mim sendo deglutido.

Minha essência é carregar o doce e a semente e não enraizar-me, mas sobretudo percorrer os caminhos obscuros da alimentação de quem consome o produto da mãe árvore produto de sua dor para o mundo?

Não tenho receios. Não, tenho receios.  E muitos,por isso me assustam me fragmentam na tentativa de impossível novamente me reunir. Já não se mais é a velha mente.

andreiACunha





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