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domingo, 20 de janeiro de 2013

INFUSÃO NARRATIVA




Até que ponto eu penetro dentro de uma personagem e ela dentro de mim, não é fácil dizer.
Cacilda Becker 
Sempre que pretendia começar uma nova história, lembrava-se de Tzinacan, mago religioso encarcerado por Pedro de Alvarado, que mediante lutas e batalhas buscava a escrita do Deus. Nada nesse sentido de começar lhe era fácil, perecia mesmo ter de enfrentar o medo do tempo, do espaço ínfimo do fosso de pedra e do jaguar com o qual dividia o espaço separado apenas por uma janela ao nível do chão.

O nascer por escrito, por demais dolorido, representava o medo do que na escrita se prefiguraria como contação. Afinal, ele, narrador, era criatura criada apenas para isso: se expor nas mãos de um Pedro de Alvarado, que como alguém real lhe daria a luz. Seu fosso era na mente de outrem – se seria participante de fatos ou ficção, se saberia ou não de todos os pensamentos dos participantes da narrativa, se vilão ou protagonista...

Seu destino não era o seu por escolha própria, querendo ou não estava nas mãos de um deus provisoriamente dono das palavras que o animaria para a composição da partitura, do compasso, da melodia...

Suas atitudes – comoventes, indecentes, condizentes ou não com a moral eram apenas questão de estalos mentais dessa imensa fogueira que habita a alma humana denominada criação. Nessas horas é que sentia o estalo da matéria de que era feito, a madeira sendo consumida pelo fogo mental que não cessa em produção. O jaguar com o qual divide o espaço é metal e facilmente após derretido passaria pelas frestas da janela encostada ao chão refazendo-se talvez para o destruir.

Enquanto houvesse história, oxigênio como combustível, o fogo arderia e ao meio dia o idoso determinado para a função ergueria e baixaria por meio da roldana o alimento que evitaria a morte antes do tempo determinado por seu algoz.

O problema maior de Pedro de Alvarado é lidar com sua potência dita como divina, enquanto semideus, ele desconhecia em profundidade o que realmente anima seu pensamento criativo. Escrevia sim, dava vida a inúmeros narradores, mas a fonte chamada de musa inspiradora era vista como Santa tal qual as imagens nas igrejas.

Nesses momentos é que misteriosamente havia a fusão de todos os seres tanto Criador quanto criaturas.Muito ainda havia para que enfim o autor pudesse  descobrir a origem das origens que o trazia à tona para animar tantos e mais tantos outros narradores.

Eram nessas que mesmo a contragosto do algoz sabia que inúmeros outros narradores continuariam a nascer assim como ele agora demonstrando toda a falibilidade, fragilidade bem como genialidade desse ser real e surreal que se intitula autor.

andreiACunha








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