Num determinado dia, eles se pegaram contemplando aquela foto. Não sabiam ainda quem era o artista criador da tal obra infinita de significações e beleza esplêndidas. No entanto, a apreciavam como se fosse a do mais completo fotógrafo dos últimos tempos.
Um círculo gigante que se adensava a numa profundidade desconhecida e rugosa. Todos que a apreciavam viam ali uma representação de algo em si mesmos, mas não sabiam dizer exatamente o quê...
Esse questionamento intrigou tanto os presentes que a obra ganhou um espaço próprio com direito a entradas individuais de no máximo 2 minutos de contemplação. Abriu-se um concurso para premiar a melhor interpretação. Obviamente, o prêmio seria valioso: a miniatura da obra em 3D.
A não identificação do artista era requisito do próprio autor, não queria se expor e era justamente esse o seu intuito. Mas a galeria que se propôs a abrigá-lo dizia se tratar de um famosíssimo e raro artista da área fotográfica .
Enfim, a obra que também não tinha nome foi batizada de Inominável bem como o autor da primorosa arte. Choveram inscrições, interpretações e tudo o mais que pudesse arrebanhar o valioso prêmio.
Só não contavam que o objetivo do concurso era só e somente o de atrair a parcelada dos endinheirados, pois o que mais atrai pessoas egoístas senão o dinheiro e o controle do mundo sob suas rédeas?
No dia da apuração, todos os concorrentes foram pegos pela obra que na verdade era um gigante umbigo armadilha para prendê-los em seus mundos. Ali estavam os grandes políticos, os aduladores, bajuladores, avarentos e afins.
Eles, amontoados pela rede expelida pelo imenso umbigo, é que seriam a verdadeira obra a ser exposta na galeria.
Por fim, o fotógrafo – um mero desconhecido excêntrico em ascensão – acenou para o povo enredado na teia armadilha e disse:
- Sorriam! Vocês são a arte que realmente quero expor.
E durante toda aquela temporada os tais passaram ali expostos tendo como única vista a mesma foto que os prendeu naquele universo. Naquela armadilha.
O umbigo.
Andreia Cunha
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