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sábado, 17 de março de 2012

ELA E A VELA



Da janela vejo uma vela iluminar alguém.

- Quem é ela? E o que faz ali?

É madrugada e o lugar é um tanto barra. Sua figura some em meio à escuridão. Fico com aquela imagem na cabeça.

É magia, energia, pura emoção em mim.

Sento-me no sofá, ao lado uns papéis de quem a pouco havia abandonado um projeto para respirar um ar menos viciado pela mente altamente ativa.

Retomo as ideias não em escrita, mas em desenho. Criar um filme daquela cena que muito me recordava uma música dos anos 80.

- Por onde andaria aquela figura feminina iluminada por uma vela vacilante no meio da noite?

Sentia-me sendo invadido por aquele ser que em presença tão breve havia tocado minha alma tão fundo. Como pôde sem saber que era observada fazer tal rebuliço em mim?

Eu, agora, era todo desenho no papel à procura da menina-mulher que me encantou no meio da madrugada.

Percebendo minha presença e não sabendo se tratar de um admirador, seus passos se apressavam com a vela quase se apagando. Podia ouvi-la mesmo no mínimo ruído. Éramos como caça e caçador.

Queria ao menos vê-la com nitidez, matar minha tão angustiante curiosidade aguçada pela penumbra de sua presença entre luz e sombra piscante. Adentramos ruas, mas ela era perspicaz em despistar.

Quando pensava me aproximar, um beco nos afastava. Ela conhecia o caminho, por talvez frequentar muito mais do que eu as ruas no escuro. Segui-a mais com os ouvidos do que os olhos. Era todo morcego – vampiro sedento por seu sangue em imagem fantasia.

Apesar de fugir, não via nela ares de medo, parecia mais uma provocação de quem arranjou um companheiro para brincar de esconde-esconde. E eu estava adorando tudo aquilo.

Eu não era só o caçador, ela havia feito seu serviço muito bem: com seu charme me convidava ao jogo do amor fugaz e também inesquecível de quem joga apenas por prazer e o sabe fazer a ponto de prender sua vítima por muito mais tempo do que se possa imaginar.

Já via seu sorriso em minha mente bailando juntamente com seus lábios macios atrevidos e ousados, mordiscando e se afastando para criar mais expectativas.

Perdi a noção do tempo em que ficamos embrenhados no jogo e eu propriamente nos desenhos.

Quando, por fim, eu a alcancei entre beijos ela sutilmente se afastou e me mostrou que era hora de acordar. O fim da história me dizia que deveria sair às ruas e sim, ir à procura da verdadeira ela que se escondia a luz da vela.

Andreia Cunha










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