Powered By Blogger

sábado, 3 de março de 2012

A INVISIBILIDADE DA ALMA



HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR



Tangenciar a invisibilidade da alma é escrita para poucos. Estamos tão sujeitos ao que os outros falam, veem e demonstram com suas atitudes em relação a nós que o que realmente importa: quem somos em essência fica para trás.

Vivemos sob essa floresta de espelhos alheios sempre tentando agradar a tudo e a todos e nos esquecemos desse ser profundo sem forma determinada que nos habita. As mesmas palavras  que talvez nos ajudem na comunicação são as mesmas que nos derrubam pelo caminho quando se tenta entender a si próprio.

Não há meio de se pensar sem palavras. Nós seres humanos a criamos e, no entanto, somos tão escravos delas quanto os piores servos devem estar a seus senhores. Nem mesmo dormindo estamos libertos de nossa criação.

Criador e criatura embrenham-se nesse mar que nos faz pulsar a vida seja em atitudes, palavras, pensamentos, sonhos ou pesadelos. Desde o mais primitivo dos instintos ao mais refinado dos estilos, precisamos externar o que existe em palavras.

Criar poesia é um meio de brincar com essa invenção que nos torna meros fantaches ou marionetes. Até mesmo o Deus que criamos precisa de palavras para criar o mundo! Um Deus verdeiramente Criador não precisa ter nada que o faça escravo tal como a palavra assim nos torna.

Seus gestos devem valer mais que mil palavras. Sua capacidade de criação é infinita. Conceito que ainda tentamos inutilmente entender. A língua também é infinita nas muitas possiblidades de brincar, por isso escrever é igualmente um ato se colocar numa posição de criador.

Bem como na narração: manipula-se personagens, ações, enredos, tempos e lugares do modo que convém ao autor.

 Nessa condição, o homem se sente apto para jogar com os destinos, tanto quanto nó seres verdadeiramente humanos o somos desse destino imprevisível, inconstante e, por isso mesmo assustador a qual temos de viver todos os dias, horas e minutos.

Nesses momentos de criação, podemos utilizar silogismos ou sofismas (a verdade ou somente a aparência da verdade), podemos criar, mudar, adaptar e uma série de atitudes que no real não nos compete.

Ninguém mais tangenciou minha alma em profundidade quanto Clarice Lispector em suas bem claras tentativas de demonstrar nosso fracasso em relação à engenhosidade da palavra. 

Ao lê-la sentia-me ínfima em minha condição, e talvez até pudesse vislumbrar a infinitude espiralada do que venha a ser a vida em seus aspectos intenso e evolutivo.

 Mas sobretudo quando voltava ao real saía muito modificada, notando minha pequenez em relação ao mundo – bem o oposto do que muitos homens infelizmente se julgam de maneira ilusória por conta do dinheiro ou de status social.

Clarice ainda é mestra para tangenciar esse universo de imensidão que nos habita e nos faz perceber nossa condição humilde de poeira das estrelas, que pensa poder entender plenamente o que ainda nem vislumbramos dentro de nós mesmos.

Ainda bem que temos uma única língua. Se muita gente já é capaz de provocar tantos absurdos com apenas uma que diríamos caso tivéssemos mais de uma como meio de se comunicar.

De qualquer forma seja Deus como for – uma energia, um ser, uma força, uma luz ou outras tantas formas o que nos fica é a eterna condição de dependentes dessa criação que é a palavra para podermos nos expressar e também nos fazermos entender.

Andreia Cunha







Nenhum comentário:

Postar um comentário