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terça-feira, 20 de março de 2012

MAIS UM ACASO DENTRE OS CASOS


-Meu Pai amado, de maneira alguma gostaria de estar na situação a qual me encontro.

Desnorteado e cambaleante mal percebo o que a meu redor acontece. Vejo muito vagamente pessoas se aglomerando e entre mundos distintos e distantes meu corpo tomba e padece sem saber o que é real ou imaginário. Se fosse um sonho poderia abrir os olhos, mas mal consigo agora mexê-los. Sinto que tocam em mim, ouço vozes, uma delas calma e ressoante se repete em meus ouvidos entregues a sorte: tudo vai ficar bem. Não se preocupe. Sinto uma forte luz incomodar meus olhos, quero abri-los, mas já parecem abertos ou imóveis, não sei.

Do chão ou de onde penso estar sinto o corpo flutuar deixando todo o peso do impacto no passado como se pudesse sentir o tempo além do próprio tempo. Como se estivesse acima das horas no meu infinitivo pessoal SER muito além do sou fui ou era.

Será que morri, estou em que estado de consciência? Coma? Quando parecia pensar a voz anterior me acalmava com gesto meigo de quem sabe o que fala além das certezas humanas. Sua certeza me aliviou a tal ponto que não mais ouvi o exterior. Só a repetição suave do ‘tudo vai ficar bem’.

Despregado, desgrudado e livre flutuava pelas linhas acima dessas horas doloridas e confusas. Vi de longe uma vista magnífica. Um jardim de supostamente um hospital. Eu não estava lá como uma pessoa que pisa e sente a grama acolher os pés cansados. Estava de outra maneira, como se fosse apenas um narrador onisciente que terá de contar o que viu, pois está distante e acima de toda aquela suposta realidade que se prefigura em seus olhos e mente num estado consciencial diferente de tudo o que já viveu.

Sentia uma paz inigualável, um conforto e um aconchego de alma que tinha vontade de permanecer, permanecer e mais permanecer: repetições que remetem a eternidade que exala pelos poros de tudo o que ali está.

Uma mão toca em meu ombro e sem me mover ainda anestesiado pelo que sentia alguém diz: ‘é essa uma parte da existência, mas para você o voltar se faz necessário. Há o que ser feito’. Sou reconduzido e calmamente me deixo levar como se não mais tivesse vontade própria. Deixo-me ser guiado, deixo-me vago do mundo material e completamente à vontade do ser superior que determina meu retorno.

Sinto um toque, alguém pega em minha mão e a acaricia. Volto a sentir dores e as vozes de outrora sempre dando algum tipo de ordem. Estou imóvel, porém ouço tudo, flutuo sobre mim, rondo-me, cerco-me, mas sem a devida permissão para acordar. ‘Mantenha a medicação para amanhã fazermos uma nova avaliação do caso’.

O caso era eu. Não mais acima do tempo. Era um presente em todos os sentidos. O tempo do agora me era devolvido e isso era um presente da vida renascida em mim. Minha alegria era tão grande em saber que veria os meus novamente que pulei para o meu dentro e abri os olhos para essa nova hora que me dizia em com toda gentileza.

Ei, é hora de renascer, só não vale chorar.

Andreia Cunha



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