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quarta-feira, 21 de março de 2012

MORCEGO MOMENTO




Os dias se sucediam como noites e as noites como dia. Trocá-los não era algo que desejava, mas aconteciam por puro metabolismo descontrolado. Há tempos queria reverter o processo, mas isso lhe causava muitos transtornos.

Via apenas um finalzinho da tarde e pelo jeito o tempo andava bom mais que o habitual para a chegada do outono. As noites eram mágicas e calmas, mais que a barulheira e agitação dos movimentos que durante o dia as pessoas faziam.


Sua mente estava mais para as belezas e paz noturnas do que necessariamente as agitações diurnas, tinha mais disposição, não se ligava às horríveis notícias propagadas pelas mídias. Suas noites eram névoas do resquício que poderia ter sido o dia. Sentia vontade de olhar as estrelas e alcançar os mistérios obscurecidos pelos movimentos conturbados dos elétrons humanos em seus giros descontrolados e desconfiantes apegados à terra.

Queria até modificar a sintonia, mas seus voos eram tão mais místicos e saudáveis nessa condição... Arriscava-se a sentar na praia para um banho de lua ao som das ondas e espumas embranquecidas do mar tão negro quanto à noite a pode ser.

Esses momentos lhe eram revigorantes e sábios em seu silêncio natural... Eram também tão introspectivos quanto o estágio em que se encontrava. Poucas pessoas na rua, alguns poucos carros e os roncos dos sonâmbulos permaneciam em seus quartos para serem propagados novamente ao raiar do dia em seus falares descontrolados pelos compromissos inadiáveis.

Estava justamente no lado oposto da maré humana. Os silêncios eram sábios e lhe falavam mais que as palavras. Havia nesses tempos aprendido a lidar com algo que poucos haviam descoberto. 

O silêncio é libertador e a noite, a mestra para ensinar a ouvir esses sons inaudíveis para ouvidos despreparados.

Por mais que quisesse reverter a duras penas o processo, algo muito bom estava sendo ensinado para retomar à vida diurna mais preparada para lidar com as diferenças e seus sentidos mais aguçados.

Afinal, ouvir realmente requer saber lidar com os silêncios exteriores e interiores. Era essa a sensação que estava tendo pela aprendizagem que o metabolismo reverso poderia lhe ensinar.

A cera da insensibilidade estava sendo retirada por todas essas mudanças interessantes e ainda inexplicáveis.

Andreia Cunha








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