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sábado, 11 de junho de 2011

O ESTRANHO SUMIÇO DE MIM


multi dão

Olhei-me no espelho e não me reconheci. Quem era aquela senhora distinta que se refletia roubando minha imagem que deveria estar ali? Senti-me roubada de mim mesma. Eu não me era ou havia sido sabotada?

     Não queria mais me questionar. Resolvi não aceitar a ridícula condição de sumir e reaparecer na pele de outra. Procurei outros espelhos, portas de bancos, vidros espelhados... Enfim, qualquer lugar que pudesse realmente me mostrar como sou.   “Demorei tanto para descobrir meu ser que seria impossível ter sido roubada!” Também não queria questionar minha sanidade. Não era tempo para sandices, apesar de minhas intempéries serem um tanto anormais.

     O que mais me preocupou depois de alguns segundos de olhos arregalados no nada, foi imaginar onde estaria meu reflexo: Meu Mim, meu Eu?
Olhava pelas portas dos bancos, shoppings, vitrines, fontes da cidade e o que via não me combinava, não me era. Sabia bem disso, pois no dia anterior havia dormido comigo mesma: a verdadeira e reconhecida MIM.
     Notava que alguns olhares perceberam meu estranho desespero de quem perde algo que lhe é vital. E nesse caso, não era o dinheiro. Estava a ponto de sentar e chorar, quando dei de cara com uma mulher que calmamente passeava pela cidade, carregando muitas sacolas de lojas de grifes. Meu Deus! Era Eu, meu Mim perdido num espelho vulgar e com mais vida do que Eu mesma! Levantei-me daquela prostração de ânimo e arranjei forças sobrenaturais para correr até mim. 

Acho que ela percebeu e se assustou, pois aumentou os passos após breve olhada para onde estava. Devo tê-la ou ter-me assustado, mas não poderia perdê-la ou perder-me de vista. Caso contrário poderia nunca mais me ver. Isso sim seria o maior dos maiores absurdos. Seria obrigada a aceitar-me naquela aparência desconhecidamente medonha.

O desconhecido sempre me causou espanto. Não previa isso para meu eu.

Busquei-me no meio da multidão, mas fui incapaz de agarrar-me. Deixei-me cair numa vertiginosa vertigem que me arrebatou momentaneamente trazendo-me para o real imaginário que tentamos entender e chamamos de vida.

Andreia Cunha






    

2 comentários:

  1. Parabens Andrea pela escolha dos textos em geral mas esse mexeu muito comigo ...identificação total...valeu
    Seu Blog está mui rico!
    Sucesso sempre!

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  2. Obrigada, miguxa. É sempre bom saber que nossa escrita toca os sentimentos de nosso leitor. Você faz parte desse meu processo de escrita. Sempre serei grata por sua confiança nesse talento que espero estar lapidando mto bem. BjUs no S2

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