A avó cozinhava enquanto a neta a seu redor não parava de perguntar. Até que por fim uma nova história surgiu:
- No início era Bla. E tudo se fez por meio de Bla. Outros tantos blas foram surgindo que o mundo se tornou um blá, blá, blá... Mas isso não satisfaz. As crianças querem sempre saber mais.
- E de onde Bla surgiu que gerou tantos outros iguais e desiguais?
- Até hoje não se sabe. Só se tem idéias e muito vagas por sinal.
Numa velha panela a água fervia, ali seriam acrescentados os ingredientes. Estavam crus e precisavam ser amolecidos pelo calor.
- Uma delas é a de que o homem foi influenciado pelo calor, pois ele também precisava ser preparado e lapidado para os fatos vindouros , a esse calor, deu-se o nome de fogo. Nessa época, esses seres viviam suas estranhas lendas de cavernas e espantos. Surgia na boca um desejo incontrolável de seguir os eventos da natureza.
O vento falava, as nuvens em chuva falavam, os animais falavam entre si, e o homem até então só observava sem saber o que tudo aquilo significava.
Certo dia, um bradou pela dor de um espinho fincado no pé, outro de alegria depois de uma caça, e até mesmo de raiva ou prazer por uma conquista. E daí por diante cada sentimento passou a corresponder a um grito.
- Mas e a panela no fogo?
A água já estava sumindo e virando vapor...
- Nela, os homens além de colocar os alimentos, passaram a introduzir também as palavras. Cada uma era novidade e possuía um tempero diferente.
Por isso, hoje temos um reino magnífico onde as palavras podem sair e ganhar vida e criar outros universos além do nosso tão real e duro.
Cozer as palavras é arte de imaginar, criar iguarias e aguçar o paladar para o gosto pela vida, pelo sonho e o encanto que o mundo real não nos pode dar.
- Vó, que palavra vamos hoje experimentar?
- Ah! Isso você vai ter que acertar. Abra a boca e feche os olhos...
- Hummm, já sei é...
Andreia Cunha
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