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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A CARA A TAPA


Me movo como educador, porque,
primeiro, me movo como gente.

Paulo Freire

Tentarei expor minhas mais íntimas idéias e sei que com isso corro o risco de ser criticada, mal interpretada ou talvez até compreendida por alguns, mas enfim, não posso deixar de expor o que em mim está mesmo que com desagrado de alguns.

Discordo do termo educador atrelado à figura do professor como este vem sendo interpretado ao longo dos tempos. Essa distorção, a qual desejo expor, transforma a importante figura do professor, enquanto mestre em determinada área do conhecimento, em mero cuidador e passador de comportamentos e atitudes que deveriam vir de berço.

Explicitarei melhor. O primeiro contato de uma criança é a família. Esta é o primeiro núcleo social na quais regras e limites devem ser estabelecidos. Seja como for esse núcleo, é nele que deve haver a base para a criança que ali convive de como se comportar nos demais segmentos que farão parte de sua vida futura.

Ao chegar à escola, a criança já deve saber que a figura do professor sendo um ser mais experiente pela vida e pelo conhecimento a qual possui é um educador nato em suas atitudes e gestos.

Eis a grande diferença causadora de grandes embaraços entre nós na educação atual e no conceito do que é um professor-educador. Minha postura enquanto mestre já é a de educador, portanto, não é minha função ditar as normas básicas que devem ser preestabelecidas no lar.

Entretanto o que se vê é o desgaste total, completo e absoluto dos professores, pois além de abarcarem tarefas como ensinar português, matemática e as demais ciências, estes devem se preocupar com a tarefa que cabe a um pai,ou uma mãe (funções que por si só são extremamente penosas a um professor que deve lidar com 40 a 50 alunos em uma sala.).

Ao final do ano letivo e dos ciclos ainda há a cobrança com os conteúdos de base. Nesse ponto questiono: Como é possível abarcar tantas funções sendo que a família delegou seu papel para a escola? Filhos são para toda a vida. Não é jogando-os, como muitas vezes se vê, escola adentro que este sairá formado tal como carro em linha de produção.

“Vamos injetar educação de base e conteúdos específicos para que estes possam passar em concursos, Enem(s) e vestibulares pela vida afora. Pronto, ao final do percurso de 9 anos, o brinquedinho está formado...”

Confesso que guardo em mim o pasmo essencial de questionar e duvidar das respostas prontas, mas o que se faz hoje em dia é matar toda a dúvida e a curiosidade que possa vir à tona na criança – isso quando existe comunicação efetiva entre ambas as partes mediante tantas humilhações sofridas pelo professor vindas das hierarquias superiores.

E não adianta alguns dizerem: “Ah, mas eu consigo a atenção plena dos meus aluninhos.” Com um sistema porco e podre como esse na qual todos sabem que basta apenas ir à escola, ter presença que o resto é somente resto e nisso incluo o conhecimento.

Há casos em que alunos adolescentes já bem sucedidos no futebol, por exemplo, falam ao professor: “Olha cara, não preciso disso aí. Quanto você quer para me dar presença e nota? O clube só exige isso. Eu já tenho minha vida ganha.”

Nunca ouvi tal proposta, porém soube de casos indignantes como esse. E aí é que vem a pergunta que não quer calar: Onde estão os pais nesse momento que não tem consciência da mutilação causada nesse ser pela distorção, inversão e ausência de valores?

Isso é simplesmente um exemplo bem grotesco do que acontece. Outros permanecem na escola por conta dos bolsas isso e aquilo. Não discordo do apoio financeiro em casos específicos, contudo a escola está falida enquanto instituição de saber e conhecimento. A falta de investimento de todos os níveis só endossa a agonia que antecede a morte da escola.

Há um cansaço de alma aliado a uma completa descrença por parte dos mestres enquanto nada for realmente feito com a vontade de melhorar verdadeiramente a educação pública.

Governos que não priorizam a educação de seu povo como meio de ascensão material e espiritual sempre ficarão a margem dos demais que assim o fazem.

Andreia Cunha


"Acredito que a primeira função do educador 
é ensinar a ver, sentir e fazer.
Não estamos lidando com robôs, 
e sim com pequenos seres 
em plena descoberta do conhecer 
e o experimentar."

Vanessa Clariza Pena
O QUE IMPORTA É PASSAR.









Um comentário:

  1. Excelente seu texto! Concordo plenamente com suas colocações.Ah! Se tivéssemos um número expressivo de professores esclarecidos e politizados... Tudo seria bem diferente, não? Creio ser esta nossa função primordial: ajudar na formação de indivíduos que possam fazer a diferença no mundo. Mas ninguém dá o que não tem...

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