RE- PRESENTE NOVA-MENTE

'É preciso sofrer depois de ter sofrido, 

e amar, e mais amar, depois de ter amado'.

'sussurro sem som

onde a gente se lembra

do que nunca soube'

Guimarães Rosa

Tem coisas que só a simplicidade abre a vista do homem. É aí que seus pensamentos tomam forma mesmo nos olhos distraídos daquele que pensava que o mundo apenas girava em sua cabeça.

São nesses lampejos tipo relâmpagos de noite de verão que toda uma vida ganha sentido e tanto se amplia como se reduz ao átimo de segundo presente que já se foi.

Era então ali que olhava o mar. Não o ouvia. A maré estava baixa. Distante, estava; distante seguia. Mudou apenas com a chegada de uma brisa brincalhona que rodopiava com a areia em ciranda-cirandinha ganhando a forma de pequeno redemoinho.

De baixinho, subiu mansinho até a altura da luminária esguia que estava em sua direção. Um medinho se assomou. Parecia sim um mini furacão. Os pensamentos enfileirados, organizados remexeram-se num com a vinda do vento de areia carregado.

Ele, homem, era todo grão em meio a profusão externa mediante a confusão interna que em si antecedia. Encolheu-se no banco. Apenas permanecia. O vento o comoveu da inércia corpórea e o anestesiou da mente nos acontecimentos do dia.

Insegurança era a palavra. Era também seu nome no exato inusitado.

Entregou-se ao vento-brisa-cirandinha que lhe dizia no talvez de quem escreve:  ‘quero levar todo esse fardo de concreto que te consome, ó criatura’.

Fechou-se nos olhos e deixou-se banhar da areia batismal. Estava recebendo o sopro do espírito, porque até então era barro amassado, enformado, despossuído do sentido da sublime beleza – sublimeza.

Era dessa brincadeira da natureza que algo se restabelecia em seu ser renascente em banho-passarinho. O vento o chafurdou na areia para que enfim restabelecesse seu corpo e sua alma nos sentidos.

Era só um tudo isso de repente. Talvez mais um pouco que viria na vontade do eternizar o presente num constante re-presente.

Surgia ali um homem Nova-Mente.

andreiACunha