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domingo, 16 de dezembro de 2012

CÉU VÉU



..."O que não sou também é uma forma de ser. Eu sou eu e meus avessos."
Fábio de Melo


Sigo por caminhos que tem a minha forma. Nada me é novo, mas ao mesmo tempo tudo me é novo no manejo e na maneira em que desvendo as trilhas que persigo.

Cada giro é uma nova etapa embora tenha a impressão de saber o que fazer por já ter feito em algum tempo do antes. Porém, o tempo ilude.

Somos tempo vivendo e sendo consumidos nas areias de sua ampulheta que segue e gira.
Penso-me demais, sinto-me demais. E meu instinto pede uma trégua em pacto compacto de agir mais enquanto o tempo segue em sua fúria.

Caso contrário, serei consumida pelos grãos que em breve ‘caem’. Não sou mais criança e ainda assim não me sei agir. Culpo-me pela criança que carrego em meu ventre. Esse eu mesmo que se recusa a nascer por medo.

Medo de quê?

Tempo só é inimigo quando o ser se deixa engolir sem agir no nada mais a fazer. Não há certo ou errado, mas o ficar atado na inércia, mortificado pela górgona não trará a comoção necessária, o movimento em paixão, a luz da razão, para a próxima ação que também pode ser ferida-ilusão. Só ecos de mim...

O mistério é em concílio ditado em carta assinada em areia. A prova de sua existência fica por conta da memória que se encarrega de ser bênção ou maldição.

E então o que somos? Memória viva em corpo que luta na imprevisibilidade da morte no minuto seguinte? Nada nos pertence, nada nos é? Só se é o que se foi e mesmo assim já era na expectativa do que no próximo segundo será?

Não consigo pegar os instantes. Retê-los é sentir a inércia da morte. Eis o medo. E eu ainda quero a vida vivida, completa, desmedida na espessura do caminho que me trilho.

Tenho a forma infinita do labirinto interrogação. Esse é meu mar à vista, minha terra movediça. Meu céu em chão, meu chão em céu. Véu.

andreiACunha









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