É preciso cavar para mostrar como as coisas foram
historicamente contingentes, por tal ou qual razão inteligíveis, mas não
necessárias. É preciso fazer aparecer o inteligível sob o fundo da vacuidade e
negar uma necessidade; e pensar o que existe está longe de preencher todos os
espaços possíveis. Fazer um verdadeiro desafio inevitável da questão: o que se
pode jogar e como inventar um jogo?
Michel Foucault
O homem não sabe mais lidar com ela. Aliás acho que nunca
soube. Como subterfúgio sempre é mais fácil culpar o outro a vivê-la em toda a
sua graça e plenitude. Mas o que é plenitude senão uma palavra antes de ser uma
ideia abstrata ou um modo de vida juntamente com esse ela?
Persisto em não a nomear e chama-la por intermédio de
pronomes enigmáticos. É sempre melhor prevenir para o que não há como remediar.
Podes me acusar de medo, mas a troco de que cultivaria o receio se por acaso sou
apenas a mera imaginação da autora na figura de narradora?
Para evitar fadigas declará-la-ei, mas apenas no momento em
que me convier, pois apesar de não ter vida no real mundo tenho vontades
próprias e desejos o que me faz tão humana quanto você aí que me lê e tenta me
decifrar nessas letras.
Esse ela guarda toda a essência da maturidade, os
adolescentes a almejam de maneira desregrada deixando-a com a cara da rebeldia,
da ousadia envolta nos mantos da coragem. Mera figura decorativa que aos poucos
amainará sua força, pois afinal ela não precisa da violência.
Compreensão lhe
basta e bom uso de seus ideiais.
Questiona-me sobre o remediar? Ok. Digo que se suas doses
forem desregradas como as citadas pelo modo adolescente ela pode causar danos
irreversíveis e muitos já perderam a vida por conta desse ab-uso, diria um
sub-uso tosco e mal interpretado.
Outros agem de má-fé querendo ludibriar com manjares doando
a custo zero barganhas pelo precioso ela que nela contém. Afinal, não é todos
os dias que é possível lidar com alguém que usufrui de liberdade para se ser
sem necessariamente se iludir com os teres e veres alheios.
É ela. Eu a disse e talvez nem a percebeste. Entendo, é o costume
de passar pelas letras sem repará-las pro-fundamente. Muitos não se dão conta
de que atingi-la requer sobretudo negar o que para outros seria uma prisão
contida no não da recusa do fácil aceitar.
Nem todo não é inessencial. Alguns nãos são essenciais. Pedem
maturidade de escolhas, reconhecimento de limites, crescimento em conhecimentos
e aceitação da opinião alheia.
Entendamos: Toda liberdade plena passa pelos crivos de um
não em algum momento.
andreiACunha
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