Powered By Blogger

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A NATA DA COBERTURA





Era porteiro de um prédio há mais de 50 anos, quando anunciaram que em breve estaria aposentado e teria de deixar o pequeno espaço que ocupava no térreo daquele imenso edifício.

Ficou estarrecido, estático, vago e mudo perante o anúncio de sopetão logo pela manhã. O que faria? O que lhe restaria a não ser a rua após tantos anos de intensa dedicação? Impecavelmente entregava as correspondências, anunciava os recados, cumpria com suas obrigações e além do mais ali estava sua vida social: conhecia os então vizinhos, tinha feito amizades... Afinal, 50 anos é uma vida!

E agora, mediante uma pessoa responsável pela questão administrativa do condomínio, recebia a notícia da moça que sorria como se aquilo para ele fosse um prêmio: APOSENTADORIA!!!
Para ele, aposentadoria. Não se sentia nem trabalhando. Sentia-se um morador especial, diferente, um pai do prédio.

Naquele mesmo dia, entristecido, voltou para casa e não disse nada a mulher. O emudecimento era sua arma perante as dores e os problemas quando estes o afetavam com mais intensidade.
No dia seguinte, logo pela manhã, começou a retirar alguns pertences. A esposa, conhecedora de seu humor, não questionou, apenas via e esperava o tempo dele se abrir.

Pegou o elevador de serviço e abalou-se para além da cobertura. Era lá que desentulhava seus pertences. Fez bem umas 15 viagens dessas, quando um amigo morador começou a perceber:
- Seu Rinovildo, o que o Senhor está fazendo?

- Ah, meu amigo Esmeraldo, apenas uma pequena mudancinha.

E foi lá mesmo que se estabeleceu com a esposa intitulando-o como novo lar.
Meio que tomado por uma insanidade a qual poucos tinham coragem de questionar, ele lá se fixou, fez seu puxadinho e o chamou de DESCOBERTURA.

Pois foi na descobertura que lhe assistiu morar até o fim de sua vida.

andreiACunha











Nenhum comentário:

Postar um comentário